Há uma grande expectativa no mundo inteiro sobre a chamada de capital que a Eletrobras estará oferecendo ao mercado nos próximos dias. Impropriamente denominada privatização, a venda de ações da estatal brasileira é encarada nos meios de investidores institucionais como a retomada de um leque de parceiros importantes, que são as estatais brasileiras negociadas nas bolsas internacionais.
Havia mesmo certa impaciência com a demora do Brasil de voltar a captar capital para suas empresas, depois que os desvios de conduta foram devidamente equacionados judicialmente, como no caso da Petrobras. Não é incomum uma empresa negociada em bolsas internacionais apareça com prejuízos. Isto é parte do jogo capitalista. Importante é que a fiscalização aconteça e tire do mercado os profissionais delinquentes.
Se o mercado reagir positivamente, dando um aval de credibilidade à ação saneadora da Justiça Brasileira, os cofres dos grandes investidores mundiais vão se abrir para as empresas governamentais brasileiras que estão no mercado de capitais pelo mundo afora. Depois das estatais, também as privadas de capital aberto poderão voltar aos poucos aos pregões das grandes bolsas.
Está sobrando dinheiro, no mundo, para investimento de longo prazo, com até 30 anos. Os administradores dessas instituições de investimento são gestores de fundos de aposentadoria do Primeiro Mundo, na sua maior parte.
Os Pension Founds norte-americanos são conhecidos há décadas, mas nos últimos 15 anos a previdência europeia, tradicionalmente estatal, vem migrando do sistema tradicional de contribuição e benefícios definidos, para o modelo de capitalização, que está substituindo gradual e segura, mas não lentamente, o antigo sistema de solidariedade entre gerações pelo de carteira própria de cada trabalhador.
Mesmo no Brasil, atualmente, a principal fonte de investimentos de capital de longo prazo vem da previdência privada de funcionários de estatais ou de grandes empresas nacionais. Os europeus, diante do envelhecimento acelerado da população, já vêm botando as barbas de molho, criando uma base mundial para garantir a saúde futura de seus sistemas previdenciários.
O Brasil, atualmente, por esse ponto de vista de investidores de longo prazo, é um dos mercados mais atraentes. O País está chamando infraestrutura.
Milhões de toneladas de produtos agrícolas e industriais que podem abastecer populações pobres ou ricas mundo afora, cada qual mais faminta de mercadorias, que estão cultivadas e fabricadas aqui a mais de um milhar de quilômetros das saídas, portos e aeroportos (na era dos grandes aviões este transporte ficará competitivo).
Não temos estradas nem portos para escoar e embarcar. Há aí uma receita enorme em tarifas, pedágios e outras forma de ressarcimento à espera de oportunidades para dinheiro ocioso.
Gerando um PIB maior que trilhão de dólares, número do Século XXI, o Brasil ainda se movimenta numa rede de transportes construída em meados do século passado, na virada dos anos 60 para os 70, quando tinha uma de exportação alicerçada em café e minério de ferro.
A Eletrobras é uma boa isca. O operador vê que a falta de investimento deriva de políticas de preços equivocadas do acionista controlador, algo que pode ser rapidamente revertido.
Os ativos oferecidos são atraentes: geradoras diversificadas: hidrelétricas, eólicas, solares (poucas ainda), termelétricas alimentadas por todos os combustíveis: petróleo, carvão, nuclear e biomassa. Distribuição integrada em todo o território nacional¸ com garantia de recebíveis de duas centenas de milhões de consumidores. Falta investimento em modernização, distribuição e novas plantas.
No ar, soprando vento contrário, a desconfiança no presente. Terá esse governo que aí está, o acionista, condições de garantir o dinheirinho das viúvas do Primeiro Mundo? Será criado um arcabouço legal que ofereça tais garantias, nas mãos de um congresso em grande parte controlado por causas e corporações? Estará a Eletrobras limpinha para voltar às bolsas internacionais? A Lava Jato pegou contra ou a favor? Veremos nos próximos dias.