O prefeito de São Paulo, João Doria, está fazendo os últimos movimentos para a renúncia, compondo alianças e dando tratos à sua imagem, para lançar candidato ao governo do Estado. No campo político, ele já se acertou com Gilberto Kassab, do PSD. Agora precisa convencer o eleitorado de que não deixando a Prefeitura não traiu sua votação de há dois anos. É um passo perigoso.
Ele é a única possibilidade de tucanos e vertente conservadora tradicional marcharem unidos na sucessão estadual e, mais ainda, de levantarem um palanque consistente para o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin. Sem uma vitória avassaladora em São Paulo o, o tucano não teria muitas chances de chegar ao segundo turno. A batalha final será decisiva na sucessão presidencial.
O prefeito de São Paulo, João Doria, procura uma aliança à direita enquanto seu padrinho político, o governador Geraldo Alckmin, busca um candidato a vice com paladar deglutível para eleitores do campo esquerdista; os tucanos de São Paulo enlouqueceram? Nada disso, eles estão se mexendo para buscar o velho e esquecido voto útil, que adoçou candidaturas intragáveis no passado. É o segundo turno chegando.
O prefeito já resolveu seu problema: sua chapa repete a fórmula eleitoral vitoriosa de José Serra para a Prefeitura da capital, em 2004, com o atual ministro de Dilma e Temer, o então deputado Gilberto Kassab, que, ainda no DEM, convalidou a guinada tucana à direita como grande expressão da vertente política paulista originária das classes empresariais. Neste ano. num segundo turno contra algum petista, a dupla Dória/Kassab vai unir todas as forças conservadoras para enfrentar o petismo e, de forma mais ampla, às esquerdas atreladas a movimentos sociais e demais segmentos anticapitalistas.
Esta aliança seria imprópria para chamar-se de voto útil, que é o nome de uma articulação histórica do campo da esquerda. Entretanto, não deixa de ser o famoso esquema para votar contra e não a favor.
Pois é aí, no perigo de enfrentar dividido o bicho papão Jair Bolsonaro, que o antigo “campo democrático” dos anos 1970 começa a se movimentar nos bastidores. Num segundo turno contra o capitão, essa vertente precisará voltar aos idos de 1978 (os atuais PMDB, PSDB, PT e PDT formaram juntos a candidatura de Franco Montoro, inclusive Lula e FHC) e voltar às urnas no segundo turno para conter à direta hidrófoba. O nome será o que chegar à frente: Aí estão Lula (ou seu preposto), Ciro Gomes e… Geraldo Alckmin.
É esta possibilidade concreta que explica os afagos ainda tímidos das grandes lideranças dos partidos da antiga “vertente democrática”. E mais ainda: em caso de segundo turno contra Bolsonaro, o próprio LMDB terá de atender às vozes ancestrais de seus numistutelares, Ulisses, Tancredo, Montoro e tantos mais. Esse clamor da tradição histórica é que explica as frases condescendentes de Lula a Michel Temer. O atual presidente será, assim, um ator no processo. Quem diria!
A última eleição com “voto útil “explícito foi quando Fernando Collor venceu, no segundo turno, a frente integrada por PT, PSDB, PDT e outros que se uniram em torno da candidatura do petista Luiz Inácio Lula da Silva. Daí em diante essa fórmula perdeu utilidade, pois nas eleições seguintes os segundos turnos se deram dentro do mesmo campo: Fernando Henrique venceu no primeiro turno e as disputas subsequentes foram entre petistas e tucanos. Tudo em casa.
A volta do voto útil. As novas gerações de eleitores do chamado campo progressista do eleitorado, liderado pelo PT, não tiveram o dissabor de ir às urnas tapando o nariz para depositar a cédula (ainda era no papel) com o então denominado “voto útil”. Nessa fórmula, as forças políticas se compõem numa aliança eleitoral precária, válida apenas para o segundo turno com o objetivo de impedir a vitória do candidato da direita. Isto correu em muitos casos antes da dupla PT/PSDB assumir a hegemonia.
No caso de São Paulo o grande espantalho era o atual deputado prisioneiro Paulo Salim Maluf. Assim mesmo, ele derrotou as forças progressistas, inclusive com seu “poste” Celso Pitta. Em vários estados (e capitais, depois que se restabeleceram as eleições para prefeitos) isto se repetiu nas eleições de 1978 para cá. Hoje esta configuração está extinta, menos em São Paulo, onde a dicotomia esquerda/direita se mantém.
Fernando Henrique, Lula e Temer no mesmo palanque? Quem duvida que esta está por vir?