O capitão Jair Bolsonaro imita seu antecessor marechal Floriano Peixoto, ambos originários da arma de Artilharia, e investe sobre os comerciantes para conter a carestia, velho nome para a famigerada inflação. O marechal de ferro mandou prender os atacadistas portugueses do Rio para segurar os preços da batata e da cebola no varejo; o presidente Bolsonaro cai em cima dos supermercadistas, para conter a alta dos preços do arroz, o vilão do dia.
Bolsonaro repete Leonel Brizola em abril de 1962. Uma vez mais a conta vai bater nos bolsos dos produtores gaúchos. Naquela época, o governador gaúcho lançou mão dos estoques do Instituto Rio-Grandense do Arroz (IRGA) para dar um tapa de luva em seu arquiadversário, Carlos Lacerda, então governador da Guanabara, às voltas com uma crise de desabastecimento. O preço ao produtor desabou. Havia eleição em outubro.
O filme se repete: surfando numa quebra de safras no exterior, os rizicultores do Sul fizeram bons negócios no mercado internacional. Resultado: o preço desse ingrediente básico na feijoada do carioca disparou. A solução do atual presidente foi isentar de impostos o produto importado, na esperança de que uma concorrência efetiva obrigue o mercado a se ajustar. Como seu antecessor artilheiro, o atual presidente acredita que pode domar a lei da oferta e da procura com a tinta de sua esferográfica BIC.
A verdade é que o bichão feio da inflação mostra sua cara atrás da porta. Segundo os economistas, o aumento da demanda deveu-se aos programas sociais, com doação de papel pintado, nome jocoso de dinheiro sem lastro. Não podia dar outro resultado: os preços subiram devido à uma demanda insustentável. Velha fórmula dos populismos dos anos 1950.
Com Brizola deu certo: ele foi candidato a deputado federal no estado da Guanabara (atual RJ) e teve uma votação que até hoje não foi igualada em eleições proporcionais, 269.384 votos, uma quarta parte do eleitorado total. Lacerda ficou com a cara no chão, pois o gaúcho mudou seu domicílio eleitoral de Porto Alegre para o Rio e derrotou o governador na terra dele. Inclusive na majoritária. Além das Câmaras, os cariocas elegeram o vice-governador (o estado não tinha esse cargo até então), Elói Dutra, do PTB, contra o candidato da situação, Lopo Coelho, da coligação PSD/UDN.
Bolsonaro, entretanto, corre riscos com sua importação de arroz dos Estados Unidos. O passado condena. Com Juscelino Kubitschek, em 1958, uma tentativa de intervir no mercado de feijão deu errada. A leguminosa foi importada também dos Estados Unidos. Comprado a preço de ocasião, o feijão norte-americano chegou ao Brasil como a salvação da mesa da feijoada. Mal começou a descarregar, ainda no porto, a imprensa descobriu que o produto estava carunchado, impróprio para consumo. Foi um escândalo. O líder da oposição, Carlos Lacerda, bateu forte. Foi um desastre político para o governo.
Meses depois, Lacerda venceu a primeira eleição para governador, na esteira do feijão podre, do recém-criado estado da Guanabara, derrotando o candidato do presidente JK, Sergio Magalhães. Já Brizola, desde então, foi duas vezes eleito governador do estado do Rio (83/87 e 91/94), não obstante tenha ficado 20 anos fora da política, quando foi exilado pelo golpe de 1964. Bolsonaro também está com o mesmo problema. Seu aliado, o prefeito Marcelo Crivella, entrou no rol dos devassados pela Polícia Federal, assim como seu adversário, Eduardo Paes.
Com os dois sob suspeita, diante de iminente desastre eleitoral, cresce o nome da ex-governadora (atual deputada federal) Benedita da Silva, do PT, que também já teve seus problemas com o Tribunal de Contas, embora por uso indevido de mordomias quando foi ministra do ex-presidente Lula da Silva. O caso dela não é tão grave. De repente, cria-se como alternativa de esquerda, uma das poucas nas grandes cidades brasileira neste momento. Como dizia o ditado: será o pé do Benedito? digo, (a).