Parte do Brasil está embevecida à própria má sorte, ao conseguir sobreviver a um programa de televisão dos mais ecléticos já vistos, que enriquece alguns protagonistas, a empresa produtora e emburrece, de tantas excentricidades e bobagens apresentadas, as centenas de milhões de espectadores há 21 anos dedicados a assisti-lo. Chama-se BBB Brasil – Besteira, Bobagem, Burrice, Brasil – verdadeiro insulto a um povo já com tantos sofrimentos. Como se esses ingredientes já não integrassem grande parte do país.
O BBB B é uma sequência milionária de homens e mulheres escandalosamente fantasiados (as), ambientes estranhos, quartos de dormir zoneados, cozinhas. Tudo como não se poderia imaginar.
A trama é cumprir tarefas absurdas, em trajes estranhos, de modo a humilhar e eliminar os pretendentes à vitória. Os ambientes onde os fatos se desenrolam são exóticos: quartos cheios de bagunça, promiscuidade, homens, jardins, piscinas, mulheres vestidas, pouco vestidas, femmes fatales provincianas a provocar coleguinhas e espectadores. Com toques de desajeitada sensualidade. Vale tudo.
Óculos esquisitos, blusas, calças, shortinhos, biquínis, toalhas enroladas, bermudas maxicoloridas, tudo para impressionar os bebebistas da plateia eletrônica. Essa mistura de bagulhos e gosto difuso pode estar sendo assistida por mais de 70 milhões de pessoas, semanalmente, há 21 anos. Como o país resiste a tanta chafurdagem? Quem lucra bilhões com a pataquada? A TV Globbbo, os disputantes pelo título de BBB B e um prêmio de R$ 1,5 milhão. Se fosse o valor correspondente ao peso de idiotices, banalidades e imbecilidades apresentadas o prêmio estaria até pequeno.
O programa é um manancial de asneiras difícil de deglutir. Salvo o pessoal de mentalidade bebebista. Isso é bom para eles, candidatos, apresentadores, promotores, criadores de barbaridades, dirigentes da emissora dona do programa. E péssimo para o país e sua população, maioria formada por pobres, analfabetos, moradores de rua, desempregados e tantos miseráveis. Necessitados de formação ética, social, artística e cultural, não de achincalhes.
O objetivo do baixo nível é colocar estultices na tela, enganar os espectadores e faturar, faturar, faturar. Não deve ter sido o sonho do fundador Roberto Marinho. O rumo selvagem passou a vigorar há 21 anos, com a chegada do BBB. O Brasil tem sido, assim, avacalhado por show business de ralé, com ridicularias de todo tipo apresentadas numa das maiores redes de televisão do mundo.
Algumas criações recentes para distrair os milhões de seguidores do BBB foram um beijo entre homossexuais barbados, comum nos bas fonds de qualquer cidade. Não propriamente um avanço social nem sexual. Outra foi um sujeito vestido de folhas de plástico com despertador na mão, acordando os colegas sonolentos. Ou ainda 3 bebebistas embaixo de chuveiros esperando que outros candidatos escolhessem quais mangueiras estariam funcionando para encharcá-los em luxuosos boxes.
Emocionante ou babaquice para adultos? Quem, entre os mais de 70 milhões de bebebistas diários da Globbbo não se empolgaria com tal cena? O CEO do BBB B cogita instalar diversas novas atrações, mais estapafúrdias. Os quartos são zonas de diversão: ninguém acorda no lugar onde foi dormir. E um bebebista alertou: “Acabou o amor. Isso aqui vai ficar um inferno”.
Essas brincadeiras rendem à Globbbo cerca de R$ 180 milhões por cada edição do programa. Números superiores a cada período. Os elevados lucros auferidos pela TV e a nula participação de elementos culturais, sociais e instrutivos em programa de tal envergadura, torna a iniciativa meramente comercial quando poderia se transformar em instrumento de valor educacional para a população.
Estaria assim cumprindo um papel que cabe também aos órgãos de comunicação: informações construtivas, programas de valor social, cultural, esclarecedores à sociedade. Será correto envolver milhões de brasileiros (as) no baixo nível generalizado a título de encher as burras da empresa? Vinte anos perdidos para a população e incremento de programação absurdamente infeliz.
A insana e lucrativa atividade continua. Em 21 anos os brasileiros foram atingidos por este programa de violenta influência sobre modos e atitudes, a partir de um grupo de pessoas com suas excentricidades e falta de educação exibidas fartamente na mansão do BBB B.
Alguns exemplos podem estar sendo admirados, outros execrados. Esse volumoso espaço nada deixará de positivo para os que a ele se dedicaram, salvo muito dinheiro. Aprenderam bobagens e vivem de promoção espetaculosa.
Tamanha quantidade de dinheiro e esforços, eventualmente aplicados em educação, saúde, saneamento, comida, segurança pública, casas populares boas (muitas ordinárias se desintegram pela ação do tempo) seria um sonho e uma destinação honrada. Não cabe aos BBBs da vida, pois o pensamento deles é diverso. Citamos como exemplo para termos conhecimento do montante perdido e uma ideia de quanto poderia ser construído, houvesse verbas, grandeza e coragem disponíveis no país e dedicados à sua reconstrução.
O BBB não tem graça nenhuma. E não poderia ostentar o nome do país em suas macacadas.
— José Fonseca Filho é jornalista