A chamada classe política (eufemismo curioso), quais baratas tontas, está sendo engolida pelo tempo, deglutida por suas próprias contradições, sem encontrar uma fórmula para sair da armadilha que armou para si própria, a reforma da legislação eleitoral.
De retalho em retalho o parlamento teceu uma teia sinistra. O cenário à frente é termos uma eleição regida por legislação esquizofrênica. Num regime que se estabiliza pela vontade da maioria o quadro à vista é de uma constelação de minorias. Surrealismo explícito.
Em nenhuma outra imagem cabe tão bem a metáfora do momento: O rabo abana o cachorro.
O tempo, medido pelos prazos constitucionais, vai engolir o parlamento. O país vai chegar às eleições com três ou quatro dezenas de partidos proibidos de concertarem coligações. Cada um por si.
Com regras tão difusas, caberá ao Judiciário arbitrar ou decidir como se organizará o pleito.
As eleições majoritárias, notadamente a nacional, para presidente e vice, terão de se arranjar em campanhas boca a boca, ao pé do ouvido, os candidatos falando de viva voz a um público de 150 milhões de eleitores.
O arquipélago dos pequenos partidos, entidades isoladas e que não compõem somas, pois defendem interesses exclusivos, não esperam inertes, como se diz, sua extinção pela lei da barreira.
Desqualificados como “legendas de aluguel”, uns, ou como “nichos ideológicos”, outros, assistem à gritaria contra o fundão do financiamento de campanhas, esperando que a rejeição ao modelo inviabilize, por falta de recursos, seus grandes algozes, os chamados grandes partidos. Quem ri por último…
Uma pequena legenda com base numa causa, corporação, região ou seguidora de uma liderança de pequeno porte, só tem a ganhar com o impasse.
No fim do túnel está a eleição sem dinheiro. Isto é mortal para as legendas hegemônicas. O mais provável é que o impasse perdure e as regras sejam mantidas na legislação em vigor. A Justiça fará os ajustes.
A grande reforma política, bem além de uma simples nova lei eleitoral, terá de emergir. Esta é a lição da História do Brasil: A cada 30 anos (um pouco mais, um pouco menos), há uma grande mudança, que, normalmente, coincide com troca de classe dominante e da subida de nova geração.
Senão, vejamos: Brasil Reino/Primeiro Império, sob liderança da Dom João VI e Pedro I, 1915/1840; Maioridade com Parlamentarismo, até a Guerra do Paraguai (consolidação das fronteiras econômicas), 1840/1870; Abolicionismo e instauração da República (pelos militares, até a entrega do poder à aristocracia cafeeira, com Prudente de Morais) 1879/1896; República Velha, 1896/1930; Era Vargas, 1930/1964; Neodesenvolvimentismo (regime militar, forte protagonismo estatal) 1964/1985; Nova Repúbica, 1986/2017?
Falando em nomes, como chegariam os novos tempos? Viriam do embate entre os dois charmosos paulistanos emergentes? O neoconservador João Doria ou o ¨enfant gâté¨ da nova esquerda, Fernando Haddad? Ou algo mais contundente, o protochavista ultranacionalista capitão Jair Bolsonaro (sempre os capitães; Luiz Carlos Prestes também era capitão do Exército)? Ou o ambientalismo radical urbano de Marina Silva?
Também pode ser tudo diferente, pois a história não é um relógico no tempo: então veríamos um embate entre dois políticos convencionais da velha escola, fundadores da Nova República, Lula da Silva, de São Bernardo do Campo, e Geraldo Alckmin, de Pindamonhangaba.
Entretanto, por baixo dessa disputa no topo do sistema estará se movimentando a grande massa de votantes antipolíticos que vai eleger os parlamentos, onde efetivamente, estará o poder de fato enquanto vigorar a Constituição Cidadã.
O que virá das urnas?