O vírus nazista passou a contaminar a rotina brasileira a partir da baixa resistência dos Poderes após a desinibição do vetor do fascismo, Jair Bolsonaro. A debilidade ensejou a circulação de parasitas que boiam em uma latrina infecciosa irradiando as moléstias de alta letalidade do 3 Reich. Uma delas foi arrimada por um deputado federal, participante de movimentos sectários e eleitor do capitão. O parlamentar opinou, febril, que a Alemanha errou ao criminalizar o nazismo.
O disparate endossou a manifestação de um ogro que ousou advogar o amparo legal para se criar um partido nazista no Brasil. Um outro anônimo, igualmente insignificante, foi expelido de uma estação de TV por reproduzir a saudação de Adolfo Hitler, o maior sanguinário da civilização. São mutações fortalecidas pelos patógenos mais agressivos e originais da ignorância, que começaram a ser transmitidos por Jair Bolsonaro, um bastardo mórbido do 4 Reich. Em plena civilização ainda há néscios desconectados dos valores humanos mais importantes.
As variantes do nazismo encontraram uma ambiência fértil no bolsonarismo. Tripudiando quando eram mais 550 mil mortes da Covid-19, um sorridente capitão estendeu o tapete para a transmissora direta da suástica: cicatriz eterna do holocausto e da atrocidade do genocídio de mais de 6 milhões de pessoas, exterminadas pela fome, por fuzilamentos e em câmaras de gás em campos de concentração.
Abraçado à deputada e ao marido dela, Bolsonaro foi dedurado sobre a reunião que preferiu não notificar na agenda oficial: “Um encontro impressionante no Brasil: gostaria de agradecer ao presidente brasileiro a amistosa recepção e estou impressionada com sua clara compreensão dos problemas da Europa e dos desafios políticos de nosso tempo”, entregou a deputada alemã Beatrix Von Storch em redes sociais, imunes a segredos.
Storch é portadora da carga viral do nazismo e circula no partido da extrema direita Alternativa para Alemanha (AfD). É neta de Johann Ludwig Schwerin von Krosigk, ministro das Finanças de Adolf Hitler por mais de 12 anos. Criminoso de guerra, ele foi julgado e condenado pelo Tribunal de Nuremberg. Assim como o avô, responsável pelo confisco de bens dos judeus, Vons Storch é xenófoba.
Em março de 2021 o partido foi colocado em vigilância, democrática e sanitária, por serviços de inteligência da Alemanha. Na visita ao Brasil, a deputada também foi recepcionada pelo ministro da Ciência, Tecnologia e Inovações, Marcos Pontes, o astronauta que vive no mundo da lua. A parlamentar alemã ainda teve reuniões com os deputados Eduardo Bolsonaro, filho do presidente, e Bia Kicis, presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados. Hospedeiros do autoritarismo, ambos são investigados por infecções antidemocráticas e recidivas golpistas. A circulação desenvolta da onda nazista no Palácio do Planalto, no final de julho de 2021, entretanto, não foi inédita.
A antropóloga Adriana Dias pesquisou e diagnosticou uma outra contaminação nazista. Ela detectou em pelo menos três sites neonazistas brasileiros, uma carta escrita por Jair Bolsonaro quando deputado federal. Publicadas pelo site “The Intercept”, em julho 2021, as informações mostram que o apoio de neonazistas foi recebido positivamente pelo ‘hauptmann’ brasileiro. Na carta de 17 de dezembro de 2004, acompanhada da foto de Bolsonaro e um link para o site que usava na época, ele agradece os leitores pelo apoio: “Todo retorno que tenho dos comunicados se transforma em estímulo ao meu trabalho. Vocês são a razão da existência do meu mandato”, diz a carta publicada em três sites neonazistas.
Conforme alertado pelo “The Intercept”, não há como provar que a carta foi escrita para o site neonazista, mas a pesquisadora não encontrou a mesma mensagem em outros lugares. Bolsonaro também aplaudiu a infestação do Capitólio por grupos extremistas. Um deles vestia camisetas com referências ao “campo de Auschwitz”, a rede mais bárbara de extermínio na segunda guerra mundial.
Em 2016, ainda deputado federal, Jair Bolsonaro teve um contato mais direto com o germe nazista. Foi fotografado ao lado do candidato a vereador no Rio de Janeiro, Marco Antônio, conhecido como o “sósia de Hitler”. Na pose, Bolsonaro aparece sorrindo ao lado do homem vestido igual ao ditador alemão, que ostentava broches militares no paletó e o usava o mesmo bigode e corte de cabelo característicos de Hitler.
Em 2018, após a eleição de Jair Bolsonaro à presidência, a conta no Twitter da bancada do mesmo AfD alemão reproduziu uma mensagem do deputado Petr Bystron felicitando o capitão pela vitória.
“Jair Bolsonaro é um conservador franco que vem trabalhando para combater a corrupção de esquerda e restaurar a segurança e prosperidade para o seu povo”, disse o deputado da mesma colônia virótica de Beatrix Von Storch. Os bastardos do ‘führer’ anseiam empestear o mundo reciclando suas enfermidades macabras.
Além das interações e elegias a Hitler, as larvas do terceiro reich impregnam o bolsonarismo: hostilizar a imprensa, culpar os comunistas pelos fracassos, incensar a mitomania ignorante, adotar a mentira como método, propagandear falsidades, cultuar a morte, armar a população, militarizar os cargos públicos civis e disseminar do ódio contra todas as minorias, adversários, pensadores, escritores e a academia. Nos espirros fascistas estes experimentos interagem com outras drogas extraídas dos tubos de ensaio de Goebbels, como anti-intelectualismo, ódio às liberdades, reiteração dos conceitos de hierarquia, vitimização, apelos patrióticos e desarticulação do Estado.
O sequestro dos conceitos do Estado de Direito é um dos expedientes mais temerários para a democracia. O que o capitão diz, pensa e faz tem o DNA repugnante das afecções nazistas. Desde 2020, ele embala sua noite dos cristais. Uma latência comprovada em várias ocasiões, ora de viva voz, ora pelos filhos, ora por aliados e tentada por seu preceptor diabólico, Donald Trump, após ser expelido pelo eleitor norte-americano.
Em reincidentes ataques infectantes, o capitão investiu virulentamente para debilitar as instituições, constipar a democracia, alquebrar a Justiça Eleitoral e conspirar contra o livre exercício dos Poderes. Os desvarios para subjugar o STF, como fez o 3 Reich com o Judiciário alemão, são doentios. Desde maio de 2020, quando passou a pregar o golpe nas ruas, Bolsonaro tem o STF como alvo e vai preenchendo vagas com aliados acríticos e submissos. Por lá perdeu em todos os arreganhos autoritários, grande parte por unanimidade. Nas manifestações que Bolsonaro prestigiou ou convocou, faixas pediram o fechamento do Congresso e da Suprema Corte.
Quando Alexandre Ramagem foi barrado na PF muitas bravatas. Após a busca e apreensão contra aliados regurgitou: “acabou porra”. Depois da quebra de sigilo dos amigos voltou a ameaçar: “Está chegando a hora de tudo ser colocado no devido lugar”. A justiça brasileira não se acocorou. A captura do Judiciário alemão se deu após prevalecer a anomalia de Carl Schmitt. Por ela o guardião da Constituição de Weimar era o presidente do Reich, legitimado pela vontade popular. O Judiciário enfraquecido foi decisivo para Hitler pisotear a humanidade.
Outras incubações nazistas são sintomáticas. O bordão “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”, reciclou o marketing hitlerista associando o conceito de pátria à sacralidade da Providência do mandatário que ambiciona se eternizar no poder manipulando o nome de Deus. Hitler também se anunciava como uma entidade, enviado para salvar o povo de uma grande miséria. “Deutschland über alles” (Alemanha acima de tudo) era o verso do hino cantado pelos nazistas. Além da insanidade, outros atributos do capitão o equiparam ao cabo alemão: mediocridade, ego explosivo, belicismo, neuroses, intolerância, manipulação e a paranoia conspiratória.
Bolsonaro reproduz todos estes comportamentos maléficos desde sua ascensão ao Planalto. Ele maneja ainda outros receituários do 3 Reich. Ora tenta a capturar órgãos de inteligência, como Abin, PF e setores militares, ora estimula o confronto, ora ressuscita bravatas. Tentou sufocar financeiramente os jornais e ameaça a liberdade de imprensa é uma doença prevalente: “Porrada”, “vai pra puta que pariu”, “cala boca” e outros rasgos de autoritarismo. “O certo é tirar de circulação — não vou fazer isso, porque sou democrata — tirar de circulação Globo, Folha de S. Paulo, Estadão, Antagonista, são fábricas de fake news”, ameaçou o falso democrata, mirando o seu segundo maior inimigo, a imprensa e, consequentemente, a verdade.
A segregação é outra manifestação febril dos nazistas. “O que acontece na sala de aula: você tem um garoto muito bom, você pode colocar na sala com melhores. Você tem um garoto muito atrasado, você faz a mesma coisa. O pessoal acha que juntando tudo, vai dar certo. Não vai dar certo. A tendência é todo mundo ir na esteira daquele com menor inteligência. Nivela por baixo. É esse o espírito que existe no Brasil”, pontificou Bolsonaro. Hitler e seus assassinos deportavam e encarceravam em campos de concentração pessoas com deficiência, judeus, gays, comunistas e dissidentes. A eugenia foi o germe do terror nazista.
Outra ocorrência é o Estado Policial, que pariu Bolsonaro através da tocaia política da Lava Jato. O Estado Policial foi a expressão mais aterradora de Hitler, que criou e, depois, encorpou grupos paramilitares à medida que concentrava poder. A Gestapo, a SS e SA foram inchadas e, ao final, unificadas com finalidades políticas. A Gestapo, a polícia secreta e partidária, era a mais temida, e peça central do terror. O julgamento de Nuremberg declarou a Gestapo como organização criminosa. Dois de seus dirigentes (Heinrich Himmler e Hermann Göring) se mataram. Aqui Bolsonaro e o filho senador já defenderam legalizar as milícias.
A taxa de nazistas no governo é endêmica. A Secretaria de Comunicação da Presidência, quando chefiada por Fábio Wajngarten, produziu uma publicidade em maio de 2020, em plena ascensão da pandemia, sabotando o isolamento social. Ela foi compartilhada pelo capitão e, em determinado trecho, afirma: “O trabalho, a união e a verdade nos libertará”. O erro de concordância foi corrigido posteriormente, mas a contaminação nazista, eternizada na entrada do campo de concentração de Auschwitz, na Polônia (“Arbeit macht frei” – o trabalho liberta) é uma sequela permanente.
O ex-chanceler, isolacionista e servil aos EUA, Ernesto Araújo, também foi constrangido a se retratar por comparar o isolamento social aos campos de concentração. Também causou mal-estar ao mencionar a sigla SPQR no Senado, usurpada por movimentos neofascistas. Araújo também carrega outra variante nazista. O pai dele, Henrique Fonseca de Araújo, foi procurador-geral no governo de Ernesto Geisel, e deu pareceres contrários à extradição do nazista Gustav Franz Wagner. Wagner, subcomandante do campo de concentração de Sobibor (Polônia) foi responsabilizado por 250 mil mortes entre 1942 e 1943. Ele foi descoberto no Brasil em 1978 pelo famoso caçador de nazista Simon Wiesenthal. O pai do Ernesto, revelou o jornal “Folha de São Paulo”, recusou quatro pedidos de extradição: da Polônia, Áustria, Alemanha e Israel.
O assessor internacional da Presidência da República, Felipe Martins foi detectado em março de 2021 reproduzindo um gesto durante o depoimento do então chanceler, Ernesto Araújo ao Senado Federal, sobre as dificuldades na aquisição de vacinas contra a Covid-19. O gesto com a mãos é um símbolo supremacista da raça branca. O assessor alegou que ajustava a lapela do paletó e negou a eugenia, excrescência que redundou na solução final. Martins permaneceu no cargo e isso diz muito sobre o governo, seus parasitas e suas terapias malsãs. O mesmo gesto foi reproduzido por um apoiador de Bolsonaro em frente ao Alvorada. O capitão foi gentil: “Sei que é um gesto bacana, mas não pega bem pra mim”.
Em janeiro de 2020, ao som de Richard Wagner (compositor predileto de Hitler), o então secretário de Cultura de Bolsonaro, Roberto Alvim, positivou para o nazismo. Ele plagiou trechos de um pronunciamento do ministro da propaganda nazista, Joseph Goebbels: “A arte brasileira da próxima década será heroica e será nacional. Será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional e será igualmente imperativa, posto que profundamente vinculada às aspirações urgentes de nosso povo, ou então não será nada”, afirmou Alvim. Goebbels havia dito: “A arte alemã da próxima década será heroica, será ferrenhamente romântica, será desprovida de sentimentalismo e objetiva, será nacional com um grande pathos e será ao mesmo tempo imperativa e vinculante – ou não será nada”, disse Goebbels em um discurso. A fala de Alvim resgatava a grande queima de livros em 1933 na Alemanha, quando Hitler era chanceler e pregava a limpeza cultural.
Hitler, Goebbels, Himmler, Göring e outros facínoras proliferam em Nações em crise profunda, desemprego elevado, inflação alta, fome, violência, recessão, instabilidades jurídicas, políticas e institucionais. Foi a ambiência encontrada na República de Weimar, laboratório ideal para alastrar um vírus letal e entronizar um genocida, Adolfo Hitler. À margem de qualquer perspectiva histórica, a epidemia direitista pelo mundo recorre às mesmas incubações para asfixiar a democracia. O experimento foi repetido no Brasil, mas está sendo debelado. A jovem democracia brasileira resistiu ao ataque viral de cepas autoritárias para atrofiar as instituições. Constipou, ficou febril, mas mostrou-se imunizada contra agentes infecciosos externos e evitou a CPI.
O Estado Democrático de Direito acionou seus anticorpos e vacinas para neutralizar o assédio e expurgar o transmissor das moléstias tirânicas. Os imunizantes contra as enfermidades absolutistas protegem a democracia e devem ser aplicados, em campanhas maciças, para evitar uma septicemia irreversível. Com grave falta de ar, o mandato de Bolsonaro entrou na contagem regressiva. As bulas democráticas mantiveram-nos assintomáticos no surto epidemiológico, mas recomendam uma quarentena eterna para ele e seus intensivistas radicais. A mais eficaz e prolongada terapia contra novas mutações mais agressivas, entretanto, está nas mãos do eleitor: o voto. Nazismo não pertence à política, mas à polícia.