O tempo fechou na semana passada em Washington-DC. Trovoadas e escândalos atingiram diversos ocupantes da 1600 Pennsylvania Avenida. Não houve um momento mais escuro e tenebroso para um presidente — ou para a Casa Branca — desde que Richard Nixon renunciou à beira do “impeachment” no ano de chumbo de 1974. O país está atravessando uma das mais graves crises políticas, moral e ética de sua história. O cidadão americano tem a impressão de que está assistindo ao mesmo filme de terror da era Nixon.
Os escândalos envolvendo “Trumpland” cresceram mais intensamente na semana passada, mas o presidente não mostrou sinais de ter arquitetado uma estratégia mais sofisticada para abordá-los. O marido de Melania alertou que o seu “impeachment” pode levar a economia dos Estados Unidos, e, por tabela, a mundial para um caos geral. Na segunda-feira, as dissensões envolvendo sua presidência eram especulativas e inertes. Agora, os escândalos são tão reais quanto as paredes de um tanque blindado russo “Leopard 2 A7″ se aproximando dele.
Na terça-feira da semana, Michael Cohen, ex-advogado do presidente Donald Trump, confessou que é culpado de diversos crimes. Ele disse que comprou o silêncio de duas ex-amantes do presidente. “Não tomei essas decisões por conta própria; fui orientado pelo meu ex-cliente Trump”, ressaltou Cohen.Trocando em miúdos, o atual presidente, que se encontra na “UTI”, trapaceou para ganhar a Casa Branca em 2016, de acordo com um de seus ex-empregados mais próximos.
As balas disparadas pelo ex-advogado foram tão prejudiciais para o presidente, tanto legal quanto politicamente, que seu atual causídico, o ex-prefeito de Nova Iorque, Rudy Giuliani, frisou que a falta de uma acusação direta contra Trump era uma boa notícia. “Não há alegação de qualquer delito contra o presidente nas acusações do governo contra Cohen. Não há nenhuma relação entre os dois”, disse Giuliani. O ex-prefeito de Nova Iorque incorporou o espírito do saudoso alcaide de Sucupira, Odorico Paraguassu, ao afirmar que “a verdade não é a verdade”.
A confissão do ex-advogado de Trump foi apenas um dos inúmeros escândalos da semana. É importante destacar que o presidente e seus aliados prometeram na campanha de 2016 que iriam “secar o pântano” de corrupção na capital americana. Os outros: Paul Manafort, gerente de campanha do presidente, foi condenado por fraude bancária e fiscal, e o deputado Federal Duncan Hunter, republicano da Califórnia, um dos primeiros a endossar Trump em 2016, foi acusado de violar lei de financiamento de campanha.
“Não temos dúvidas, o presidente é culpado de diversos crimes “, disparou colunista Bret Stephens, do New York Times, no Twitter, após a confissão de Cohen. “Ele deve renunciar ao cargo ou ser removido do ofício.” A constatação de que Trump não apenas conhecia, mas também coordenava inúmeras atividades criminosas leva os Estados Unidos de volta aos dias de Nixon, quando as questões centrais eram o que o presidente sabia sobre o Watergate. E as comparações dos dois episódios tomaram conta da mídia americana e do resto do planeta.
Em 1998, o presidente Bill Clinton foi acusado pelo Congresso de perjúrio e obstrução de justiça decorrente de seu caso amoroso com a estagiária Monica Lewinsky. Mas Clinton não foi acusado de nenhum crime tão sério e repugnante como os delitos que Trump vem sendo incriminado.
Na quinta-feira, a procuradora-Geral do estado de Nova Iorque, Barbara D. Underwood, entrou com uma ação contra o presidente Trump, acusando-o de abusar de sua fundação de caridade por ganhos pessoais e políticos por mais de dez anos. Na queixa cabal apresentada na Suprema Corte do Estado de Nova Iorque, a procuradora-geral usou adjetivos como “ilícito”, “constante” e “persistente” para caracterizar as violações da Fundação Donald J. Trump. Na sexta-feira, o público tomou conhecimento de que os colaboradores de Trump, Allen Weisselberg, o diretor financeiro da empresa Trump, e David Pecker, CEO da American Media, tinham imunidade para fornecer evidências nesse caso.
Trump está mostrando sinais de tensão e desespero, mas pouca evidência de que ele desenvolveu uma estratégia política mais sofisticada para lidar com seus problemas legais. Seu comentário no Twitter e uma entrevista ao canal de televisão Fox News na semana passada revelam novos patamares de nervosismo que combinam com a natureza profunda de sua situação: as alegações contra ele e as evidências que as apoiam estão aumentando em vez de desaparecer.
É possível que tudo isso possa ter ocorrido em um momento pior para Trump e seus aliados — isso poderia ter acontecido uma semana antes das eleições em novembro, quando o Partido Republicano tenta manter o controle das duas casas no congresso. Em menos de três meses dos eleitores irem às urnas, é muito próximo para o conforto e tranquilidade dos republicanos em Washington-DC.
Membros da bancada do governo no Congresso têm ciência de que os números das pesquisas de Trump — e deles — serão abalados nos próximos dias, e alguns confessam que estão preocupados com os efeitos dos acontecimentos da semana passada tanto nas chances nas eleições de novembro do Partido Republicano quanto na sua viabilidade da campanha de reeleição em 2020.