“A farsa acabou”, anunciou um vilão de romance, após o indeferimento da candidatura presidencial de Lula. “PT vai ao Supremo para adiar o inadiável: a saída da Lula”, profetizou o caderno de economia da editora Abril. O TSE determinou a suspensão do tempo de TV do PT enquanto não trocar o ex-presidente por seu Plano B (em seguida, revogou a decisão para forçar agilidade). A PGR pediu a devolução do fundo partidário caso os petistas não efetuem a substituição, afinal a linguagem do dinheiro é mais facilmente compreendida.
Cada membro do seu Diretório Nacional petista se enxerga como um Sun Tzu, embora a esmagadora maioria não passe de jogadora de dadinho, mas talvez consiga perceber que ceder à essa pressão é perder de W.O., pura rendição. Não há em se render nenhum problema em si, às vezes é a simulação que dá fôlego para recuperar as forças. Porém, não neste caso. Talvez o tenha sido logo em seguida ao Impeachment de Rousseff, mas isto já faz parte da História.
Lula coercitivamente conduzido, condenado, preso, inelegível e interditado é o mesmo líder de sempre nas pesquisas e em aprovação entre os políticos. Isto não mudará se a foto dele não aparecer na urna eletrônica no dia 07 de outubro. Se mantido como anticandidato, forçará pesquisas oficiais ou oficiosas, que sejam, a mostrarem universos paralelos: um, em que seria eleito presidente; outro, em que não é uma opção aos entrevistados, logo e por isso, não poderia mesmo ser. Estas realidades só poderiam ser alteradas se a centro-direita encontrasse um candidato que tem chance.
O bode na sala, o elefante na loja de cristais do Brasil pós-Michel Temer, lá permanecerá. A não ser que o PT escolha trocar um candidato a Nobel da Paz (sim, pois formalmente indicado por outro ganhador) e alguém que tem um processo para ser reconhecido como preso político pela ONU (que anda a passos largos, goste-se ou não do comitê de direitos políticos).
E por quem? Por um ex-prefeito derrotado no primeiro turno em sua cidade, que desperta em alas relevantes do petismo a sensação de déjà vu e que, provavelmente, seria o mais refém do establishment MDB+Centrão de todos os tempos, porque uma eventual vitória seria apertada e a negociação com estes atores imperiosa. Em consequência, mais desencanto dos militantes e mais vulnerabilidade, a esta se agregando o fato de que o intelectual é duplamente réu.
Se ganhasse, Haddad conseguiria mesmo anistiar Lula e acertar as contas com o Impeachment? Você, leitor(a) lulista ou “progressista”, responda com franqueza…
O PT não precisa ganhar esta eleição, outrossim que o eleito|a seja de centro-esquerda ou de esquerda e que pague pedágio ao legado de Lula, vestindo da maneira mais confortável possível a narrativa lulista.
Do ponto de vista pragmático, em todas as regiões em que Lula é um bom cabo eleitoral ele continuará sendo, sobretudo para outras legendas simpáticas (ou não) ao petista. Da vista do ponto simbólico, o PT se redimiria com largas parcelas do seu eleitorado e do seu público cativo, dobrando a aposta numa “ideia”, que equivale a uma “causa”, uma “ideologia para viver”, ao invés de corresponder à míope ansiedade de governadores da legenda.
O PT não tem timing, tem delay, mas talvez perceba. Se não, azar. Quem sabe seja mesmo a hora de tirar férias, junto com o PSDB da sofrível campanha de Geraldo Alckmin, “com tempo de TV com tudo”.
Leopoldo Vieira, editor do relatório de análise de cenários Idealpolitik, é especialista em Administração Pública pelo IESB, com atualização em Engaging Citizens: A Game Changer for Development, pelo Banco Mundial.