Esta semana ouvi de um político escaldado: “Bebianno cai e, uma semana depois, ninguém mais se lembra. Assim como não se fala mais no Queiroz porque houve Brumadinho, nem nas denúncias contra o Temer ou o Aécio”.
Não é bem assim, especialmente no caso do ex-ministro Bebianno. Tido como bom articulador, o ex-amigo e suposto mentiroso pode ser lembrado toda vez que o governo sofrer uma derrota política, ou simplesmente enfrentar uma dificuldade no Congresso. E olha que não vão faltar dificuldades… A demissão de Bebianno aconteceu no momento errado.
Com a entrega da proposta de reforma da Previdência e do pacote anticrime ao Congresso Nacional o governo Bolsonaro começou efetivamente. E a estreia não foi muito auspiciosa. O governo recebeu dois recados claros.
Recados do Congresso
O ministro da Justiça ouviu – a atendeu – recomendações para retirar do pacote anticrime a parte que propõe a criminalização do Caixa 2 em campanha eleitoral. O projeto vai tramitar separado. O problema é que quem vai votá-lo são os mesmos que pediram a sua retirada do pacote. Acredito que, agora, as chances de a prática do Caixa 2 virar crime são as mesmas de Bebianno voltar ao governo.
O outro recado foi entregue diretamente no gabinete do vice-presidente Hamilton Mourão. No exercício da Presidência da República, o general assinou decreto ampliando o número de funcionários com autoridade para decidir quais documentos oficiais podem ser classificados como secretos e ultrassecretos, medida que reduziria a eficácia da Lei de Acesso à Informação. O decreto foi derrubado pelos votos de mais de 350 deputados, incluída aí a gente da base do governo.
A mensagem é clara:
– Ei presidente! Nós estamos aqui, oquei?? Não esqueça da gente! Não é pressão. É só pra lembrar que, aqui, somos nós que votamos…
O governo agora, precisa mais de que tuítes prometendo reformas e combate ao crime e à corrupção. Quem votou em Bolsonaro e, mais ainda, quem não votou, já, já vai cobrar emprego, hospitais, escolas…
A base aliada também vai pedir mais que argumentos para defender o governo. Esse pessoal vai querer atender os eleitores. E para isso, não basta verbo. É preciso verba.
Quem vai ficar encarregado de atender esse pessoal todo e puxá-lo para a trincheira do governo? Bebianno, dizem, tinha jeito para coisa… Mas Bebianno já foi.
No começo, especulava-se que a articulação política, a conversa individual com deputados e senadores ficaria a cargo do chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni. O que o credenciaria para à função é a condição de deputado e ex-líder da bancada do Democratas na Câmara.
Vem troco aí…
Mas o chefe da Casa Civil já sofre bombardeio amigo. Um dos desafetos de Onyx é ninguém menos que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Correligionário de Maia, Onyx teria articulado para impedir que ele fosse reeleito presidente da Câmara, embora o companheiro de partido tenha dado mais de uma demonstração de comprometimento com uma rápida tramitação da reforma da Previdência.
Agora, vem o troco, Maia infla o ego da recém-eleita deputada da Joice Hasselmann – já bem calibrado por mais de 1 milhão de votos – apontando-a como uma potencial coordenadora da base aliada. Se bem-sucedido, Maia, no mínimo, colocará uma sombra nos holofotes de Onyx. E a coordenação vira descoordenação.
Então, o quadro é esse. Todo mundo tem certeza de que a reforma da Previdência é urgente e necessária. Governadores e prefeitos – quase todos quebrados – apoiam as mudanças. E todos sabemos da Influência que governadores podem exercer sobre as bancadas estaduais.
Só quem vota parece hesitar em assumir posição clara. Até o líder do PSL, partido do presidente, deputado Delegado Waldir, quer examinar melhor o texto antes de emitir opinião…
Guedes e Moro articulam seus projetos?
Desse jeito, talvez o presidente Bolsonaro tenha que tomar para si a articulação política, mas ele está mais para chefe do que para líder. Com apenas um civil, Onyx, no seu entorno, o presidente tem, também, a alternativa de se socorrer de um general pra ajudar na coordenação política. E aí, quem já deu mostras de que gostaria de ocupar esse espaço é o general Mourão.
Aliás, a ala militar do governo tem atuado com competência nos bastidores da política e ajudado até na articulação familiar do presidente. Ajuda que pode ser importante na hora de explicar por que a mexida no regime previdenciário das Forças Armadas só vai ser feita depois da reforma da previdência dos brasileiros sem farda.
Tem, ainda, a possibilidade de cada ministro ser o articulador do próprio projeto. Paulo Guedes articula a reforma da Previdência. Sergio Moro cuida do pacote anticrime.
Se nada disso der certo, o negócio é abrir inscrições, chamar candidatos para entrevistas e avisar que o trabalho incluirá a articulação familiar. Afinal, Bebianno se foi, mas filho não se demite.
* Fernando Guedes é jornalista, sócio da SHIS Comunicação