É possível que se repita em 2022 o episódio de 2020 em São Paulo, reconfigurando Bruno Covas, que se colocou, no segundo turno, para ficar frente à frente à esquerda castiça, com Lula da Silva e Guilherme Boulos no mesmo barco e, assim, com a bandeira do antiradicalismo, reavivar o antipetismo, chegando à vitória em 29 de novembro.
O mesmo ocorreu em Porto Alegre, onde as forças conservadoras disputaram palmo a palmo a pole position para a corrida contra a comunista (PCdoB) Manuela D’Ávila. No final, os moderados venceram a coalizão de esquerdas, não obstante a formidável abstenção e anulações.
Em São Paulo, fosse contra Márcio França, o candidato do PSDB iria comer poeira, pois o pessebista iria somar à sua base original, integrada pela centro-esquerda que votou nele no primeiro turno, as rejeições de forças anti-João Doria e o feixe de esquerda de oposição ao situacionismo que fechou com o Psol. Esta massa não se passou integralmente para Boulos. A verdadeira eleição paulista deu-se no primeiro turno. O mesmo pode acontecer em 2022, com sinal trocado. Em vez da antiassombração esquerdista, todos contra o capitão. É um cenário.
Obstáculos à frente ampla
Dois fatores se somam para dificultar que se forme uma frente de rejeição à esquerda petista no primeiro turno de 2022, procurando a vaga para enfrentar a direita de Bolsonaro. Primeiro, que todas as forças da centro-direita (a chamada direita civilizada) até a extrema esquerda psolista vão se juntar para bater o capitão, que deve chegar ao segundo turno com 30% dos votos. O que é uma força considerável que não permitirá corpo mole de seus adversários. Em segundo lugar, uma vez mais as cláusulas de barreira obrigarão os partidos a lutarem pela formação de bancadas. Serão suas forças parlamentares que, uma vez mais, determinarão a posição das forças políticas para o futuro, tanto em verbas do fundo eleitoral como, no caso dos pequenos, da própria sobrevivência orgânica. É aconselhável, no primeiro turno, cada um por si a medir forças para ver quem fica com a rapadura.
Combinar com os russos
Este é um cenário esquemático (combinou com os russos?), uma saída clássica (siciliana, diria um enxadrista), colocando no tabuleiro as três forças: direita ortodoxa, centro difuso e esquerda castiça. Cada qual dividida em várias legendas que precisarão de força própria nos parlamentos (federal e estaduais) nos quatro anos do governo seguinte, 2023-2026.
No segundo turno é que haverá o confronto final. A depender das lideranças, da capacidade de tecer alianças, de passar pela primeira fase sem deixar arestas incontornáveis, como aconteceu em 2018, quando o PT não conseguiu atrair o PDT para o bloco de Fernando Haddad. Ou seja, é preciso contar com a genialidade de articulação dos chefões. A volta da política? Ou será a continuidade da antipolítica? Um cenário bem surrealista, típico brasileiro, duas forças antipolíticas (Psol contra Bolsonaro?) batendo-se nas urnas, que são a essência da política nas democracias. Tudo é possível. Espaço aberto para sugestões.