Podcast IdealPolitik – Por que Bolsonaro não dá sinais de montar uma agenda e uma base governista tradicional?

– Olá, este é o segundo podcast IdealPolitik, especialmente para Os Divergentes.

— Na estreia do programa, na semana passada, eu trouxe a questão “Por que Bolsonaro não dá sinais de montar uma agenda e uma base governista tradicional?”. Este é um assunto que tem intrigado boa parte dos analistas políticos, afinal todos estão acostumados a medir um governo pelas políticas que executa, obras que inaugura e leis que aprova, não é mesmo?

— Só que Bolsonaro se elegeu como alguém de fora do sistema político para combater o sistema político. Este é um sentimento real, 57 milhões de eleitores escolheram ele para, entre aspas, en-di-rei-tar o Brasil… no quesito moral e ideológico. Para esses, ele tem o benefício da dúvida sobre sua experiência administrativa e sobre até a onde o sistema o deixaria governar.

— O que isso quer dizer? Bem, que Bolsonaro precisa, em um primeiro momento, apenas provar aos seus apoiadores que se mantém firme aos seus princípios, que não mudou com o poder, como seria esperado dos políticos tradicionais. Se aprovar uma medida no parlamento, ponto para ele que tirou do papel uma promessa. Se não, culpa do sistema, mas ponto também para ele por tentar.

— Mas e o caso Queiroz? Não estaria por trás de toda uma capitulação precoce do governo, inclusive a desidratação da Lava Jato? De toda uma fragilidade que levará o presidente ao colo do sistema político?

— Então, para muitas pessoas, a restauração da moralidade tem a ver com uma ideologia conservadora. Assim, o presidente está combinando três coisas:

— Primeiro, anima o seu fã-clube fiel diretamente pelas redes sociais com controversos temas conservadores, riscando uma linha divisória entre os que os que estão com ele e os que estão com ideologias, ora chamadas de globalistas, ora de comunistas. Em alerta, debelam as ameaças de Impeachment.

— Para obter êxito nas eleições municipais de 2020 e nas presidenciais de 2022, de acordo com o que parece ser a estratégia presidencial, é preciso, primeiro, garantir quem já estava junto, o piso da intenção de voto de Bolsonaro em 2018 – os especialistas dizem que isso é algo entre 12% a 20% do eleitorado – para só depois ampliar para eleitores não convertidos e nas condições postas em cada eleição dessa. Quem disse que a realidade de 2022 será como a de 2018?

— Segundo, faz pequenos acordos e composições que o permite tensionar e distensionar o ambiente com o parlamento, o que, na hora H, poderá ser perdoados pela massa que
apostou nele em 2018 contra os tais pecados capitais do PT e da esquerda, e do próprio sistema político. Inclusive, talvez, ele possa ser perdoado até por ter deixado a desejar na economia.

— Terceiro, promove uma virada no motivo pelo qual seus eleitores deveriam optar por ele. Da revolta anticorrupção para o voto conservador na cultura. As interferências no Coaf, Receita Federal, Polícia Federal, Procuradoria-Geral da República e outrem, foram nestes dois sentidos.

— E tem mais um: uma revolução conservadora que Bolsonaro, Olavo de Carvalho etc. dizem estar a fazer precisa de quadros. Rateando o governo em uma coalizão, a nova
direita não teria como posicionar seu próprio capital humano no Estado e formá-lo na gestão pública.

— Veja, o inimigo de Bolsonaro não é a esquerda, ela é a ameaça, a culpada. O presidente quer se consolidar como a referência do eleitorado conservador que trocou o PSDB, o MDB e as legendas do Centrão por ele, no ano passado, quando esses partidos caíram na Lava Jato, após o Impeachment de Dilma . Ele disputa com o centro.

— O centro poderá vir, mas pela sede do baixo clero, pelos seus políticos tradicionais nordestinos, por exemplo, a quem só resta se agarrar a Bolsonaro ou sucumbir perante o lulismo.

— O movimento dele não é ampliar sempre, é ampliar no timing certo; a base é por afinidade ideológica: que os políticos de direita saiam do armário e provem se são conservadores; a agenda é a legitimação plebiscitária permanente. Vai dar certo? Ora, isso depende, acima
de tudo e de todos, de você manifestar seu poder interior de ser o governo.

— Sou Leopoldo Vieira, jornalista, analista político e chefe-executivo da IdealPolitik, agência de análise e assessoria.

— Time is politics!

Créditos:

Direção e texto: Leopoldo Vieira
Produção e edição: Daniel Gauss
Imagem de fundo: Google (autoria desconhecida)
Música: Trecho do filme Casablanca, em que hinos nazistas, entoados por oficiais alemães da Segunda Guerra, são suplantados pela Marselhesa (canto da revolução francesa e hino nacional francês), no bar Café Americain, por ordem de Victor Lazlo (Paul Heinreid), líder da resistência liberal checoslovaca. Aqui, representa a evolução do obscurantismo para a iluminação política por meio da ação assertiva e consciente.

Deixe seu comentário