As lideranças políticas do agronegócio estão se preparando para montar o touro chucro. Na condição de coadjuvantes do protagonismo do vice-presidente Hamilton Mourão, os produtores rurais serão lançados na arena da briga entre o governo brasileiro e os movimentos ambientalistas nacionais e internacionais, que devem se intensificar nesta semana, com o início da temporada de incêndios e queimadas na Amazônia.
Capoeiras e cerrados, mas também resíduos de desmatamentos, devem pegar fogo e se converterem em tema para escândalo mundial. O governo brasileiro, por seu turno, prepara-se para rebater os ataques internos e externos. A questão ambiental vai dominar o noticiário.
Na Câmara, mesmo lideranças da oposição estão preocupadas com o problema do crescente isolamento do Brasil. O deputado Afonso Motta, do PDT do Rio Grande do Sul, adverte: “Mesmo num momento de grave crise econômica e social pela pandemia, o agronegócio brasileiro garante ao País receita, empregos e protagonismo no cenário internacional”.
O parlamentar trabalhista acrescenta: “Liderar a produção de carnes e grãos, com qualidade, assegura o reconhecimento como um dos maiores produtores de alimentos do mundo.” Segundo Motta, “apesar da insensibilidade do governo para a defesa do meio ambiente e sustentabilidade do distanciamento da ciência no trato da pandemia, o agronegócio, por seu valor e tudo que representa no abastecimento do mundo, vem impedindo o nosso isolamento”.
Preservar negócios e o meio ambiente
O presidente da Frente Ruralista, deputado Alceu Moreira (MDB/RS), reconhece que as pressões internacionais são mais abrangentes do que simples guerra comercial de concorrentes contra o agronegócio brasileiro. No seu entender, o País deve cair na real: “A questão maior é um misto de interesse comercial e preservação ambiental. Nós não temos como tratar disto, um problema desta natureza, achando pura e simplesmente que todo mundo só está interessado na questão comercial. Existe a questão ambiental, o desmatamento. O que não dá é para ser ingênuo nesta conversa. Nós vamos fazer o que for possível”, afirma.
Também a pecuária de corte entrou na mira dos ambientalistas europeus. Notícias esparsas e sem fontes precisas são divulgadas no exterior, afirmando que as carnes brasileiras estariam contaminadas pelo novo coronavírus.
O presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), o ex-deputado e ex-ministro da Agricultura em 1998/99 (governo FHC), Francisco Turra (PP/RS), já se adianta para evitar a desqualificação dos abatedouros nacionais: “Dos frigoríficos do mundo, nós somos os que têm a maior proteção. Há 200 frigoríficos, no Brasil (aves, suínos e bovinos) com 500 mil trabalhadores de chão de fábrica. Foram criados 20 mil novos empregos para substituir os que foram afastados, por proteção, sem perder o trabalho. Os frigoríficos vêm investindo também nas comunidades, auxiliando no combate à covid-19, doando material, equipamentos e investindo valores significativos no auxílio às prefeituras, no atendimento à população. A cada dia vamos nos aprimorando e, semanalmente, nos encontramos com os técnicos dos departamentos de saúde para validar, para discutir, para aprimorar, buscando soluções”.
Turra relata que há canais de diálogo com as autoridades que regulamentam a atividade para fortalecer os protocolos existentes. Disse que o setor tomou todas as medidas orientadas pelas autoridades de saúde e o protocolo aplicado pelos frigoríficos vem a cada dia sendo aperfeiçoado. Foi, inclusive, validado pelo hospital israelita Albert Einstein.
Já a Frente Ruralista está procurando reverter a percepção negativa das populações urbanas em relação ao agronegócio: “No governo petista, a questão ambiental era uma agenda que dominava. Toda e qualquer coisa que fosse contra esse interesse era tratado como retrógrada, ultrapassada”, diz Alceu Moreira, admitindo que “quem tem relação urbana facilmente se sensibiliza e normalmente tende a criminalizar qualquer discurso que seja contrário a esse interesse. Mas no Congresso, com os debates que nós temos feito ultimamente, cada vez que passa o tempo, mais gente vem compreendendo a verdade”.
Ecologista x ruralista: em busca do respeito mútuo
Já o produtor, antigamente indiferente às críticas, “está percebendo que esta questão pode nos trazer algum prejuízo. Portanto, nós vamos bater no ponto que todo o agricultor tem que respeitar o ecologista, bem com o ambientalista também tem que nos respeitar”. Já na agropecuária, “nós não temos nenhum desmatamento ilegal, nós achamos que isso é crime, é caso de polícia.”
Segundo o presidente da Frente Ruralista, “agora nós temos condições de fazer um debate sobre esse tema. Muito interlocutor, nas redes sociais, vem trabalhando o público, esclarecendo a imprensa e a gente tem certeza do seguinte: se poluir toda a baía da Guanabara, se jogar toneladas de lixo no Tietê, nenhum lugar do mundo se preocupará com isso. Se fores no mar do Caribe, tu vais encontrar milhões de toneladas de plástico rodando por todo aquele ambiente lindo, poluído, ninguém dá bola. A questão toda é a Amazônia”.
O parlamentar gaúcho conclui que neste momento a iniciativa está com o governo: “O general Mourão [vice-presidente da República] tem condições de fazer esse diálogo. Agora, se eles, realmente querem tratar a Amazônia como uma estrutura mundial, com certeza eles vão ter que pagar por isso”, acentuou Alceu Moreira.