As restrições econômicas adotadas pelos EUA e pela União Europeia contra a Rússia indicam que o Brasil pode sair ganhando e ver a retomada do crescimento em 2022. Quanto maior a desvalorização da moeda russa, maior a fuga de empresas estrangeiras daquele país. Neste cenário, inesperado, aumentam as perspectivas positivas para o Brasil como opção de investimento.
Os investidores estrangeiros hoje estão vendo risco também em alocar novos recursos em outros países próximos a Rússia com medo de contágio desta guerra da Rússia contra a Ucrânia. O Brasil, com posição muito semelhante a da neutralidade, passou a ser o destino dos investidores estrangeiros em ações na Bolsa de Valores, a B3, e em títulos públicos (aqueles que o Tesouro Nacional emite para fazer caixa e se endividar). Neste último caso, também pelas elevadas taxas de juros, uma das maiores do mundo.
O reflexo deste ingresso de moeda estrangeira pode ser aferido no comportamento do câmbio no Brasil. A cotação do real diante do dólar vem caindo. Atualmente, anda em torno de R$ 5,00, mas pode cair abaixo deste patamar simbólico, o que seria de grande ajuda ao esforço do Banco Central de controlar a inflação.
Isto ocorre uma vez que, quando entra dólar no país, a moeda estrangeira é trocada por reais e este dólar vai para as reservas internacionais do Brasil. Os reais usados nesta operação ajudam a diminuir a base monetária do Banco Central. Assim, com o efeito das atuais taxas de juros, aumentam seu potencial para segurar a inflação. Isto também contribui para que o Banco Central possa aliviar a mão sobre novos aumentos da Taxa Selic, a referência para os juros no Brasil. Quanto mais alta a Selic, mais caro ficam os empréstimos inibindo novos investimentos.
Um real mais forte diante do dólar ajuda, também, de forma generalizada, na redução dos preços. Os preços de todos os produtos importados ficam mais em conta, o que contribui para segurar os aumentos de alimentos e bens produzidos no Brasil. Na prática, significa ainda um aumento no poder de compra do brasileiro aqui e no exterior.
Mas, atenção!
Faço um alerta ao leitor sobre a dificuldade de se ter certeza sobre este comportamento do câmbio. Os economistas não gostam de fazer previsões, mas os operadores do Banco do Brasil e do Banco Safra, entre outros, apontavam a oportunidade quando o real estava acima de R$ 5,20 de investir na moeda estrangeira diante da possibilidade de depreciação do real, coisa típica de ano de eleições.
O que estamos vendo é o contrário. Uma valorização do real devido à crise que a Rússia provocou. O quanto durará este movimento benéfico do câmbio frente aos impactos dos aumentos do petróleo, e demais produtos afetados pela crise, sobre a inflação futura, não é possível dimensionar.
Por enquanto, é certo afirmar que, sem querer, o presidente Vladimir Putin, o czar do século XXI, deu uma mão ao presidente do Banco Central do Brasil, Roberto Campos Neto, que tem a difícil tarefa de domar a inflação brasileira. Certamente não era este o alvo de Putin, tampouco o desejo de Campos Neto, mas, em economia, não existem nem mocinhos nem bandidos.