No Paraná, há grande expectativa sobre os próximos passos do ex-ministro Sérgio Moro caso ele decida enveredar pelos caminhos da política. Embora seja apontado pela mídia e por admiradores como nome forte para a presidência da República, os observadores de seu estado aventam mais realista a possibilidade de um recuo que, nesse caso, seria a disputa de um cargo no Estado nas eleições de 2022: Governador, pouco provável, senador, mais possível, ou deputado federal, uma saída viável para continuar no cenário.
O ex-ministro tem um convite firme do senador Alvaro Dias, também ex-governador e candidato à presidente da República, para filiar-se a seu partido, o Podemos. Neste caso, seria um puxador de votos poderoso no estado. Antes de decidir sua posição, caso entre realmente neste partido, terá de esperar pela definição do senador, que termina seu mandato nesta legislatura.
Palácio do Iguaçu à vista
Caso Alvaro tente, mais uma vez, à presidência, Moro poderia ser o candidato a governador. Na hipótese de o senador decidir voltar ao Palácio Iguaçu, poderia disputar sua vaga na Câmara Alta. Finalmente, se não estiver disposto a se apresentar numa campanha majoritária, seria um nome certo na Câmara Federal.
De qualquer forma, em seu estado o ex-ministro será um nome forte nas urnas. Natural de Maringá, no norte do Paraná, a região que mais governadores já ofereceu ao Estado, o ex-ministro tem uma base regional forte, podendo contribuir para alimentar uma bancada numerosa para seu partido.
Moro também seria um nome forte para o governo do Estado, com carisma e popularidade para enfrentar o governador Ratinho Júnior (Carlos Roberto Massa Júnior), que deve se apresentar para reeleição, até o momento com boa avaliação nas pesquisas. Ratinho, natural de Jandaia do Sul, na região Centro-Norte do Estado (Vale do Ivaí), lindeira com o Norte de Moro, o celeiro de políticos do Paraná. Seria uma disputa acirrada.
Isto tudo se não for candidato à presidente da República. Na avaliação dos políticos paranaenses, esta possibilidade é remota, pois a tendência será o esvaziamento de seu capital eleitoral nos próximos dois anos. Num quadro eleitoral provável, teria de enfrentar o próprio presidente Jair Bolsonaro, pescando na mesma lagoa. Improvável.
Entretanto, há uma oferta de apoio a Moro por empresários que integravam o esquema de sustentação do presidente da República e se afastaram de Bolsonaro no episódio do rompimento, semana passada. Neste caso, eles financiariam um Road Show de palestras sobre os temas de suas especialidades, combate à corrupção e lavagem de dinheiro, no Brasil e no Exterior, para manter o ex-ministro em ação e com visibilidade. Com isto, também, ele poderia cobrar cachês pelas apresentações, uma vez que, segundo declarou, não tem reservas nem patrimônio para se sustentar, até voltar ao setor público.
Assim como Lula
Esse projeto como palestrante faria uma receita para se manter, nos mesmos moldes que o ex-presidente Lula da Silva depois que deixou o governo, cobrando por suas conferências. Ironicamente, os valores dos cachês pagos do ex-presidente foram usados como suspeitas agravantes nos julgamentos de Lula pelo próprio juiz Moro.
Seja como for, passados os primeiros tempos, exposto a seus adversários, que não são poucos, Moro deve esperar fogo cerrado das redes sociais do presidente Bolsonaro, das militâncias petistas e aliados devido à sua condenação do ex-presidente Lula, de partidos políticos que tiveram seus líderes expostos pela Lava Jato, das máquinas de comunicação das empresas e empresários prejudicados pelas condenações e, ainda, de seus concorrentes nos espaços que poderá ocupar no cenário político. Sua posição de vítima de injustiça e de perseguição poderá ser abalada pelo contra-ataque de tantos e tão diversificados desafetos.
Entretanto, o destemido juiz paranaense ainda é a grande imagem de Sergio Moro, que, se não chegou a se consolidar no espaço político enquanto ministro, ao deixar o governo produziu um terremoto no Planalto Central do País. Para reiniciar sua caminhada, escolheu para o primeiro embate o inimigo mais forte, o próprio presidente da República.
Uma manobra ousada. Bem ao estilo do ex-ministro que, por detrás de sua fala macia e gestos afáveis, está uma figura que bateu duramente nas forças políticas e econômicas mais poderosas do Brasil, em todos os tempos.