Nesta terça-feira, dia 12, o presidente Jair Bolsonaro dá um salto no escuro. Ele e seus filhos decidiram formar um partido político próprio em tempo recorde para enfrentar as forças adversas no seu próprio campo político-ideológico.
Com isto, o chefe do governo pretende se libertar das amarras do sistema partidário tradicional e assumir sozinho o comando das bases eleitorais. Os líderes do PSL dizem pagar para ver.
O futuro partido, já batizado de Aliança pelo Brasil, lembra o nome histórico da Arena (Aliança Renovadora Nacional), o partido que absorveu todas as forças que apoiaram o regime militar no tempo do bipartidarismo, em 1967, até este ser extinto pela reforma partidária de 1979.
Entretanto, naquele tempo a Arena emergiu de algumas das legendas mais poderosas da época, como UDN, um pedaço majoritário do PSD e uma dezena de outras siglas consolidadas, que se opuseram ao governo do ex-presidente João Goulart. Nesta feita, Bolsonaro sai do seu partido, o PSL, sem nenhum apoio partidário, levando consigo apenas uma parte da agremiação. Terá de disputar o mercado eleitoral de um a um.
Um desafio familiar
Essa tarefa de organização ele vai dividir com seus três filhos, que serão seus lugares-tenentes. A tropa de choque será de Carlos, o 02, com suas redes sociais.
O presidente do PSL em São Paulo, Eduardo, o 03, cuidará da organização; o senador Flávio, o 01, do PSL do Rio, fará o trabalho de campo. Assim, os quatro Bolsonaros pretendem enfrentar as forças políticas organizadas já na eleição municipal do ano que vem. Um trabalho hercúleo, diria o Conselheiro Acácio (personagem do romancista português Eça de Queirós).
Seus antigos aliados prometem colocar obstáculos ao projeto da família Bolsonaro. O presidente do PSL, Luciano Bivar, está preparando uma força-tarefa para impugnar assinaturas de adesistas nos cartórios eleitorais. Com isto, os remanescentes do partido pretendem atrapalhar a formação da documentação mínima necessária.
O prazo final para registro na Justiça Eleitoral e participação nas eleições municipais será março, abril do ano que vem.
O presidente, em sua vida parlamentar, foi pouco ativo. Sua marca foi um proselitismo vigoroso.
Aprovou apenas dois projetos de sua autoria e uma PEC. Naquele tempo, se elegeu vereador pelo Partido Democrata Cristão (PDC), no Rio de Janeiro, e, por este partido, venceu sua primeira eleição de deputado federal. Depois disso, passou por outros sete partidos políticos: PPR (1993/95), PPB (1995/2003), PTB (2003/05), PFL (2005), PP (2005/16), PSC (20016/17), PSL (2018).
Além destes, esteve em negociações, não concluídas, para integrar os quadros do Prona, PEN e Patriota. Sempre foi um livre-atirador.
A estratégia de lançamento
A estratégia de 01 e 02 será concentrar a captação de adesões no Sudeste e no Nordeste, que embora seja território das oposições, seriam mais fáceis de chegar aos números mínimos, porque a meta é proporcional às populações dos estados. Menos gente, menos assinaturas.
É aí, no Nordeste, o território do arquirrival, o chefe nacional do PSL, deputado federal Luciano Bivar (PSL/PE), que desafiou o presidente Jair Bolsonaro, cujo conflito implodiu o PSL. Os Bolsonaros confiam na eficiência das redes sociais para juntar essas multidões frente às listas de adesões. Missão para Carluxo dar o toque de reunir.
Em 2018, quando o então candidato Jair Bolsonaro filiou-se ao PSL, o partido tinha apenas um deputado federal, o delegado Waldir (Soares de Oliveira), de Goiás, ex-líder da bancada, destronado por Eduardo Bolsonaro, numa ação conflituosa que abriu o racha no partido, implodindo a base aliada na Câmara.
Hoje é o segundo maior partido na Câmara, menor apenas do que seu feroz adversário, o PT do ex-presidente Lula. Bolsonaro conta com a fidelidade de seu eleitorado.
O salto do paraquedista
Será sua primeira experiência em organização político-eleitoral. Não obstante tenha sido eleito e reeleito sucessivas vezes, na área política sempre operou no corpo-a-corpo com o eleitorado. Nunca teve nenhum comitê à retaguarda, nem cargo de direção ou participou em trabalhos de organização.
Devido a seu êxito em eleições, algumas com resultados espetaculares, sempre foi cobiçado por partidos pequenos e médios como puxador de votos. Ou seja, aqueles parlamentares eleitos com votações acima do quociente mínimo, produzindo as chamadas sobras, que levam consigo candidatos menos votados.
Nestas vagas, muitas vezes, é que chegam à Câmara dos Deputados os chefes das legendas que os acolhem.
Bolsonaro é um caso raro de político ‘puxador”. Normalmente, esses campões de votos são artistas, atletas, apresentadores de rádio e tevê, entre outras celebridades. Políticos puros, de viés ideológico, como o atual presidente, são raros.
O presidente Bolsonaro sempre foi um político ousado, que não temia enfrentar sozinho seus adversários, como o comprova sua carreira parlamentar. Nesta empreitada, poderia usar como metáfora sua atitude como paraquedista militar, um soldado que enfrenta o inimigo atrás de suas linhas.
Neste caso, o salto será na forma mais perigosa, um salto no escuro, noturno, quando o paraquedista sequer tem visão do lugar onde irá pousar. Tanto pode cair suavemente no chão, como afundar numa lagoa ou descer em cima de uma árvore, quase sempre uma queda fatal. A sorte está lançada.