Acabou o verão, chega o outono. Muda estação, na natureza, tempo de plantio. Arado sulcando a terra (mentira, hoje mais de 90% das lavouras brasileiras são semeadas com plantio direto). Como está o campo em tempos de coronavírus? A locomotiva da economia nacional está batendo pino, resfolegando, como nas imagens das antigas marias-fumaças.
Indicador incontestável: a queda vertiginosa das encomendas, produção e entrega de insumos para a lavoura, desde que se acentuou a crise do coronavírus no Brasil, na semana passada. Uma das maiores fabricantes desses produtos, multinacional, que despachava cerca de 200 toneladas por semana, baixou para 60 toneladas; o faturamento, que era de R$ 300 milhões, caiu para 100 milhões. Números assustadores.
Este exemplo situado na metade da cadeia da produção é revelador. Para baixo, a queda da demanda afeta o setor de transportes, o varejo das cooperativas, o trabalho mecanizado e braçal. Resultado: estaria havendo diminuição de área plantada (reduzindo mão de obra), do uso dos insumos (menor produtividade e/ou produção), queda de qualidade dos produtos, menor produção por área plantada (corte do resultado econômico). Consequência: menor oferta e tendência à alta de preço, ou seja, pressão inflacionária.
Na outra ponta da cadeia: maior custo do dinheiro (as empresas estão vorazes no mercado financeiro, procurando fazer caixa – maior custo do dinheiro nos bancos e demais financiadores; no mesmo, sentido, renegociações de prazos, dívidas, valor final, tudo influindo para redução de resultado e menos mercadorias na porta da fábrica para embarque; queda no fornecimento de matérias-primas e componentes. Cai a demanda de combustíveis para transportes; menos vagas para motoristas, ajudantes e trabalhadores da infraestrutura do segmento, tais como frentistas, mecânicos, carregadores e operadores variados; desabastecimento e aumento de preço final ao consumidor; em toda a cadeia, desemprego.
No plano macroeconômico, um desastre para o Erário: a arrecadação mergulha às profundezas enquanto as demandas por recursos públicos multiplicam-se exponencialmente.
Em paralelo, todo esse processo de encolhimento da cadeia do agronegócio abala os negócios em todo o País devido à disseminação dos setores envolvidos. As lavouras e suas áreas dependentes (aí nem se fala de comércio geral e serviços para a população rural e operários das indústrias envolvidas) estão espalhadas por todo o país.
O plantio das safras que se iniciam no outono, ou das lavouras que estão em andamento já no final do verão e continuam por abril e maio, ocorrem em todo o País. Poucas são as culturas totalmente regionalizadas.
Para se ter uma ideia da profundidade e capilaridade desses problemas no agronegócio e, informação para os leitores urbanos, vamos relacionar os plantios nesta época do ano, que estão comprometidos nos limites dos problemas relacionados acima. Vamos falar apenas das plantações tradicionais, deixado de fora a fruticultura, produção de leite e de hortícolas e carnes em geral.
Estas são apenas as principais lavouras, em cada estado, das culturas que integram o leque do chamado agronegócio em andamento: colheita da soja; milho, 70% colhidos (19% maduro, 10% enchimento dos grãos, 1% na floração), feijão da segunda colheita (11% colhido, 35% em enchimento, 30% em floração, 15% em germinação), colheita do pepino (para mesa e óleo) e quiuí (também chamado de kiwi), plantio da safrinha de feijão, para autoconsumo e para semente.
Por estado, plantio em início ou em andamento:
Algodão: Roraima (início em julho), Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba (final do plantio); Amendoim, Paraná (1ª safra), Tocantins, Ceará, Paraíba, São Paulo, Bahia, Mato Grosso (2ª safra);
Arroz: Roraima, Ceará, Sergipe, Pernambuco, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, RS);
Feijão: Amapá, SP, Paraná, RS, Tocantins (1ª safra), Espírito Santo, Rio de Janeiro, Maranhão, Rio Grande do Norte, Ceará, Pernambuco, Sergipe, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul (2ª safra), Pará, Tocantins, Ceará, Pernambuco, Sergipe, Bahia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Distrito Federal, Minas, São Paulo e Paraná ( 3ª safra;
Girassol: RS, Ceará, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais;
Milho: Rondônia, Amazonas, Mato Grosso do Sul, Minas, Paraná, Santa Catarina e RS (1ª safra), Alagoas (2ª safra); Soja: Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas, Paraná;
Aveia: Paraná e RS; Centeio: Paraná; Cevada, Paraná, Santa Catarina e RS;
Trigo: Mato Grosso do Sul, São Paulo, Paraná e RS;
Mamona: Ceará, RN, Pernambuco;
Sorgo: Pernambuco, Mato Grosso, MS, Distrito Federal;
Aveia: MS, Paraná, RS;
Canola: Paraná e RS;
Centeio: Paraná, Santa Catarina e RS;
Cevada: Paraná, RS e Santa Catarina;
Triticale: vegetal híbrido de trigo e centeio desenvolvido pela Embrapa): São Paulo, Santa Catarina, Paraná, RS.