Medidas do Banco Central apontam para a gravidade da crise do coronavírus

Depois de ações ainda pouco efetivas do Ministério da Fazenda, foi a vez do Banco Central entrar com seu arsenal para tentar reduzir os efeitos negativos da crise econômica gerada pela paralisia provocada pelo coronavírus

Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central - Foto Orlando Brito

O conjunto de medidas anunciados hoje pelo Banco Central (BC) para dar um colchão de liquidez aos bancos, somado à decisão do BNDES de prorrogar o pagamento da empréstimos e à suspensão da jornada de trabalho por medida provisória, parcialmente revogada, indica a dimensão do tsunami que vem aí na área econômica e social.

Ao anunciar hoje pela manhã a disponibilização de R$ 1,216 trilhão, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, sinalizou que o pior dos efeitos de combate ao coronavírus sobre a economia deverão ocorrer nos próximos meses. Os valores equivalem a 16,7% do Produto Interno Bruto (PIB) e quatro vezes mais do que os 3,5% do PIB usados pelo BC para enfrentar a crise da economia mundial de 2008.

A natureza da crise atual é diferente, envolve fortemente o setor de serviço, o setor produtivo e financeiro de todo o mundo, sem falar nas incertezas quanto ao tempo de duração da doença. O processo de interrupção de produção das empresas em qualquer canto do mundo pode ter reflexos na economia local. A inevitável falência de milhares de pequenas, médias empresas de nosso país.

Campos Neto disse que as reações dos governos de todo o mundo ao ambiente de incerteza tem indicado um cenário de elevada gravidade, com turbulência financeira que supera a crise mundial de 2008. A China teria passado pelo pior no enfrentamento da doença, mas os Estados Unidos, maior economia do planeta, se prepara para uma quadro de recessão forte no próximo trimestre. O Brasil terá que lidar além dos impactos que o coronavírus provoca na economia local com os efeitos da economia mundial, que ocorrem com as oscilações do câmbio, preços das commodities e as exportações.

O arsenal das medidas anunciadas pelo BC equivalem a 16,7% do Produto Interno Bruto(PIB). Em 2008 o BC liberou o equivalente a 3,5% do PIB. Ainda é difícil estimar se as medidas adotas até agora serão suficientes para amenizar os efeitos da crise e manter os setores produtivos essenciais operando.

As informações da autoridade monetária pelo menos indicam que a quarentena e outras medidas de restrição ao trânsito terão um forte impacto sobre o setor de serviços , que representa 63% na formação do Produto Interno Bruto (PIB). O BC alerta para perda de renda das pessoas e de valores financeiros. Apenas neste início da crise foi estimado uma perda de R$ 1,6 trilhão pela desvalorização das ações na Bolsa de Valores.

Para fazer frente aos reflexos ainda mais danosos da tendência de paralisia do setor produtivo, a autoridade monetária está liberando os compulsórios e pretende conceder empréstimos aos bancos lastreados em debêntures de empresas e comprar Letras Financeiras dos bancos com garantia dos créditos concedidos.

Em uma hora como essa o dinheiro ajuda, mas não resolve um conjunto de outras dúvidas que estão na cabeça dos investidores e daqueles que vivem da “mão-pra-boca”, que dependem de seu trabalho para se alimentar e pagar as contas. O governo dos Estados Unidos pretende liberar U$ 2,5 mil por família, especialmente para uma população de 34 milhões de pessoas de trabalhadores informais.

Aqui, com exceção do BC, que está cuidando de dar liquidez e confiança ao sistema financeiro, falta coordenação na área econômica para medidas que efetivamente possam amenizar os efeitos do desemprego e perda de milhares de pequenos empreendedores que estão com negócios fechados e certamente vão quebrar.

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