Intervenção no MEC é vitória de militares sobre olavistas

O ministro Vélez, Foto Orlando Brito

Há muitos dias se ouve em Brasília que a demissão do ministro da Educação, Vélez Rodríguez, seria uma questão de dias, horas talvez. Longas horas. A cada vez que a imprensa informava isso, o presidente Jair Bolsonaro recuava – regido talvez pela lógica do espírito-de-porco, ou por pura implicância com os jornalistas.

Não sabemos se, quando você estiver lendo isso, Vélez ainda estará naquela cadeira no MEC, reinando sobre a bagunça que se instalou numa das mais importantes e cruciais pastas do Executivo. Ministro ele deixou de ser há tempos, conforme muitos já notaram e escreveram – o que Bolsonaro não conseguiu evitar.

Ricardo Machado Vieira já foi secretário de Pessoal, Ensino, Saúde e Desporto do Ministério da Defesa Foto: Divulgação/Ministério da Defesa
Bem

Mas o principal fato político desta sexta-feira, que amanheceu com um movimento mais importante até do que a demissão de Vélez, foi a nomeação do tenente-brigadeiro Ricardo Machado Vieira para a secretaria executiva do MEC, o “número 2” da pasta. Não sabemos o que ele entende de educação. Ocupava um cargo no FNDE, fundação encarregada da compra de livros didáticos e outros programas.

Machado Vieira, porém, entende de militares – e aí é que está a relevância de sua nomeação, que marca uma vitória do entorno militar do presidente sobre a chamada ala olavista do governo, a turma ideológico-aloprada indicada e apoiada pelo mentor intelectual da família Bolsonaro, o filósofo Olavo de Carvalho.

Depois da dúzia de demissões resultante do tiroteio entre olavistas e não-olavistas, que desestruturou completamente o MEC nas últimas semanas, a nomeação de um militar para o segundo cargo é uma espécie de intervenção no Ministério. No Planalto, a avaliação é de que resolveria o problema nas duas hipóteses, a da demissão e a da permanência de Vélez como uma espécie da Rainha da Inglaterra educacional.

Olavo de Carvalho

A presença do militar, com condições de tocar a pasta de forma interina com a confiança do Planalto, e ser uma espécie de cão-de-guarda depois, serve sobretudo na possibilidade de que venha a ser nomeado um político para a Educação em meio às barganhas pela votação da reforma da Previdência.

Essa é, por exemplo, a ideia do ministro chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni. Para o cargo, circulam nomes do DEM e de outros partidos vistos como possíveis aliados, sobretudo para agradar os presidentes da Câmara e do Senado, Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre. Essa nomeação poderá ser, inclusive, um dos itens do acordo de paz selado entre o Planalto e o Congresso nesta quinta.

Deixe seu comentário