A chapa esquentou de vez no clã Bolsonaro. Nessa quarta-feira (10), ocorreu uma significativa troca de guarda na defesa do tenente-coronel Mauro Cid, braço direito de Jair Bolsonaro, envolvido em uma penca de escândalos e crimes também atribuídos a seu ex-chefe. Saiu o criminalista Rodrigo Roca, que defendeu Flávio Bolsonaro no caso das Rachadinhas, ganhouu cargo no governo e sempre foi contra qualquer tipo de delação premiada. Entrou o advogado Bernardo Fenelon com um perfil bem diferente.
Além de atuar em diversos casos, Fenelon é também um estudioso da delação premiada. É autor de “A colaboração premiada unilateral”, obra em que defende a tese de que o acusado pode receber os benefícios legais sem precisar fazer uma acordo com a polícia ou o ministério público, desde que seja reconhecida sua colaboração com as investigações seja diretamente reconhecida pela Justiça.
Na prática, isso significa que um acusado não precisa atender a todas as exigências dos investigadores, mas se der uma colaboração considerada efetiva pela Justiça também pode receber os benefícios. Se recorrer a essa linha de defesa nos casos em que Mauro Cid está enrolado até o pescoço, quem vai dar a palavra final vai ser o ministro do STF Alexandre de Moraes.
Ali o sarrafo é alto. Mauro Cid só passa na prova se entregar Jair Bolsonaro pelo menos em alguns casos como os das joias sauditas, fraudes em cartão de vacina, pagamentos de contas de Michelle Bolsonaro e conspiração para um golpe de Estado. A questão é, se não for para isso, por que trocou de advogado? O que se fala nos bastidores em Brasília é que foi uma opção da sua família, incomodada com seu abandono por quem sempre foi fiel.
A gota d`agua teria sido a entrevista de Rodrigo Roca em que descartou qualquer conhecimento de Bolsonaro sobre a fraude com o cartão de vacinas, o que soou como endosso as versões bolsonaristas de que a maracutaia foi feita por Mauro Cid à revelia do ex-presidente.
A saída de Rodrigo Roca em si não significa necessariamente uma mudança da postura dos acusados. Em 30 de março, ele se retirou também da defesa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres, outro enrolado em um monte de crimes. Na época se avaliou que, com os novos advogados, ele poderia optar por uma delação premiada. O que se seguiu foram patéticas tentativas de apresentá-lo como em confusão mental, que entregou senhas falsas à PF porque estava incapaz de lembrá-las.
Na segunda-feira (8), Anderson Torres finalmente depôs à Polícia Federal sobre a tentativa da Polícia Rodoviária Federal, sob seu comando, no segundo turno das eleições, ter feito uma operação nas estradas do interior do Nordeste para barrar nas estradas eleitores que votariam em Lula. O que só não deu certo pela ameaça de Alexandre de Moraes de prender o então diretor-geral da PRF, Silvinei Vasques.
Apesar de todas as provas que a PF tem sobre sua participação nesse escândalo, Anderson Torres contou um monte de historinhas da carochinha. Disse que não pediu a diretoria de inteligência do Ministério da Justiça um mapa sobre as votações por municípios de Lula e Bolsonaro, não orientou a operação da PRF e foi a Bahia não para pedir à Polícia Federal que ajudasse nesse golpe eleitoral, mas, sim, para vistoriar obras na sede regional da PF.
Até agora está poupando Bolsonaro. Mas não a ponto de tranquilizar seu ex-chefe. Há o temor de que se Mauro Cid, em delação voluntária ou não ,entregar Bolsonaro, Anderson faça o mesmo. E o acelerado avanço das investigações sobre Mauro Cid e vários outros integrantes da cozinha de Bolsonaro, inclusive em conspiração de golpe militar, acionou sirenes de alarme. A casa começa a ruir.
A conferir.