O diagnóstico de que a corrupção no Rio de Janeiro virou metástase é mais que uma metáfora. Na avaliação de investigadores da Lava Jato e de outras operações, instituições que, por motivos diversos, pareciam escapar das apurações sobre escândalos, se bem iluminadas podem cair na vala geral. O agora réu confesso Sérgio Cabral começa a jogar luz sobre setores da Igreja Católica e ameaça puxar o fio da meada na já batizada Operação Lava Toga.
Em novo depoimento ao juiz Marcelo Bretas sobre o mega escândalo na Secretaria da Saúde durante seu longo reinado no Rio de Janeiro, Sérgio Cabral confirmou as quantias astronômicas desviadas dos cofres públicos – exageradamente altas em qualquer lugar do mundo. Só ele não se espanta com tamanhos valores. Chegou a se vangloriar que, em sua gestão, em termos percentuais, a propina caiu de 10% ou mais para módicos 5%.
Com a mesma aparente tranquilidade, Sérgio Cabral pôs a Igreja Católica na roda. Mirou alto, no Cardeal Orani Tempesta, chefe da Igreja no Rio e importante aliado do Papa Francisco na acirrada disputa pelo poder no Vaticano. “Com todo respeito ao Dom Orani, ele tinha interesse nisso”, cravou Cabral depois de discorrer sobre a participação da Igreja Católica no esquema de propina na Secretaria de Saúde.
Cabral ali levantou a ponta da cortina de uma investigação até então mantida sob sigilo. Nessa quinta-feira, a revista Época conta que o ex-padre Wagner Augusto Portugal, homem de confiança do cardeal Orani por mais de 20 anos, confessou, em delação premiada, sua participação em desvio de R$ 52 milhões em contratos da Secretaria de Saúde com a organização social católica Pró-Saúde. Wagner era diretor de Relações Institucionais e de Filantropia da Pró-Saúde, entidade nacional, sediada em São Paulo, com cerca de 50% de seu faturamento no Rio de Janeiro.
Depois que trocou de advogado e passou a assumir a autoria dos crimes que lhe são atribuídos, Sérgio Cabral se diz mais leve. A citação a Dom Orani, que pode resultar numa operação Lava Batina, é interpretada por investigadores como um aperitivo do que Cabral pode pôr na mesa em troca de benefícios judiciais, para si próprio e/ou a sua mulher, a advogada Adriana Anselmo: entregar juízes de todas as instâncias em variados tribunais na tal operação Lava Toga.
A conferir.