Jair Bolsonaro ganhou um Padre Kelmon para chamar de seu nos debates da reta final da campanha. Quinta-feira, na Globo, com a presença de Lula, a dupla dinâmica deverá ter ainda a ajuda de Ciro Gomes para bater no petista. A última incógnita é o tom de Simone Tebet, uma candidata que até agora tem chances de sair da eleição politicamente maior do que entrou, mas que pode botar tudo a perder se formar ao lado dos trogloditas nesse momento final.
O debate da Globo é, na superfície, a principal variável da última semana antes da eleição. Mas quem entende de campanha sabe que, salvo por uma ausência de última hora, ou por uma gafe monumental, esse tipo de evento dificilmente muda os rumos do pleito. No caso de Lula, todo o esforço será para conquistar os 2% que pode ser decisivos para ganhar no primeiro turno.
Pode parecer, à primeira vista, que Bolsonaro irá ao debate da Globo porque, atrás do adversário ao menos dez pontos nas pesquisas, não tem nada a perder. Mas tem sim. Auxiliares próximos do presidente diziam, neste domingo, ter dúvidas sobre o acerto na decisão de comparecer.
Diferentemente do que ocorreu no SBT, onde se sentiu em casa e teve muitos pedidos de resposta concedidos, Jair Bolsonaro considera a TV Globo um território hostil – e provavelmente estará bastante nervoso no debate. Daí a perder as estribeiras e repetir o que fez na Bandeirantes, quando agrediu verbalmente uma jornalista, custa pouco. Apesar da confirmação de presença, no Planalto há quem não se sentirá surpreendido se ele não for.
Na semana mais longa da década, o debate da Globo não é o fator mais decisivo. O que vai pesar mesmo é o poder de convencimento do petista em relação ao voto útil e ao comparecimento às urnas: votem, e votem agora. Além de convencer o eleitor de Ciro e Simone a escolhê-lo no primeiro turno, o petista tem que evitar um alto grau de abstenções.
A abstenção, aliás, é o novo fetiche da turma do establishment que quer de todo jeito forçar um segundo turno. A tese é que muita gente vai faltar – quase todos eleitores de Lula – e que isso vai impedir o desfecho em primeiro turno. Não é bem assim. Estudos mostrando o peso relativo de cada grupo ausente nas eleições de 2018 não amparam essas previsões. Embora a campanha pelo comparecimento seja muito importante.
Será uma semana de nervos à flor da pele, mas que exige justamente o contrário: sangue frio e muito cuidado. Quem passou 580 dias na cadeia sem ter cometido crime tem quilometragem e paciência suficientes para saber esperar. Já para quem chegou à presidência por um capricho do destino, sem nunca ter alcançado o tamanho do cargo, e agora teme ir para a cadeia, a questão é bem diferente. Pode ser uma semana de desespero e desatinos.