Como era previsível, quando alguma investigação relevante bate na porta de quem está no poder, se a bola cai na área do ministro do STF Gilmar Mendes, é grande a chance de murchar ali. Desde que chegou ao Supremo indicado por Fernando Henrique Cardoso, Gilmar sempre se dispôs a, em algum momento, fazer o papel de líder em todos os governos. Foi querido de FHC, de Lula, rompeu com Dilma, reatou com Temer e mantem boa relação com Bolsonaro.
Menos do que seu governismo, Gilmar, até por causa própria, sempre brigou contra as investigações sobre corrupção, em especial a Lava Jato. Subiu o tom quando soube que ele ele e o colega Dias Toffoli caíram em uma rede da Receita Federal de apuração sobre irregularidades praticadas no alto escalão da República. São personagens de um mundinho em Brasília que se considera acima do bem e do mal. Em vez de como todo mundo se explicar à Justiça, eles simplesmente conseguem acabar com as investigações.
Isso vale também para o universo em que orbitam. Como era previsível, quando alguma investigação relevante alcança poderosos, se a bola cai na área de Gilmar Mendes, é grande a chance de murchar ali. É justamente o caso da canetada de Gilmar para manter o casal Fabrício Queiroz e Márcia Aguiar fora da cadeia.
Na matéria que escrevi, na madrugada da sexta-feira, sobre a decisão do ministro Felix Fischer, do Superior Tribunal de Justiça, de mandar para a cadeia o casal Queiroz, que é personagem central em múltiplos escândalos do Clã Bolsonaro, fiz uma ressalva, que, infelizmente, se confirmou. Mesmo à revelia de decisões coletivas do próprio Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes poderia mandar soltar o casal. Foi o que fez.
Gilmar Mendes é uma instância jurídica à parte. Tem um critério próprio para suas decisões. Danem-se Instâncias e Jurisprudências. Sempre acha uma brecha nas leis. Não há dúvida nessa aplicação da Justiça como prevalece a voz mais forte do poder. A impunidade continua nadando de braçada em Brasília.
É lamentável.