Os conselhos de Darcy a Juruna

Convenção Nacional do PDT – Partido Democrático Trabalhista, em 1981, no Plenário 2, das Comissões da Câmara, em Brasília: Darcy Ribeiro expõe seus argumentos para que o cacique Mário Juruna aceite ser candidato a deputado federal pelo Rio de Janeiro. Darcy convenceu, Juruna candidatou-se e se elegeu.

Com certeza, Darcy falou a Juruna dos perigos que enfrentaria no campo da política.

Juruna deparou-se com uma questão para ele até então desconhecida: a propina. Naquela época a eleição para presidente da República não era direta, não tinha a participação do povo indo às urnas. Os presidentes eram escolhidos pelo colégio eleitoral, ou seja pelo universo de senadores e deputados, governadores, prefeitos das capitais e de alguns delegados partidários.

Em 1985, vários candidatos se apresentaram para suceder ao general João Figueiredo no Palácio Planalto. Ulysses Guimarães, Tancredo Neves, Aureliano Chaves e Paulo Maluf, entre outros. E foi justamente o candidato Maluf,  ex-governador de São Paulo que, segundo o próprio Juruna, mandou um emissário, o Calim Eid, “convencer” o cacique xavante a votar nele.

Juruna achou estranho e denunciou à imprensa, com suas palavras: – Calinhêro me ofereceu dinhêro.

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O mineiro Darcy Ribeiro era antropólogo, político, intelectual. Mas, sobretudo era sedutor. Um dos idealizadores da Universidade de Brasília, a UnB. Foi chefe da Casa Civil do governo João Goulart e, por conta do golpe militar de 1964, teve de trocar o Brasil pelo exílio na Europa. Somente retornou ao país, em 1979, com a aprovação da lei de Anistia. Era amigo inseparável de Leonel Brizola, de quem foi vice-governador do Rio.

O capitão Mário Juruna nasceu em Mato Grosso, tornou-se líder dos índios xavantes, chefe da aldeia de Namunkurá, no Rio das Mortes. Deixou sua aldeia para percorrer, na década de 1970, os gabinetes do poder em Brasília munido de um gravador com o qual registrava a voz das autoridades que prometiam e não cumpriam as promessas com os índios.

Darcy morreu de câncer, em 1997, aos 75 anos, quando era senador pelo Rio de Janeiro. E Juruna de diabetes, em 2002, aos 60, praticamente esquecido em sua casa no Guará, uma das cidades-satélite do Distrito Federal.

Orlando Brito

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