Diretas na Sapucaí

3 de março de 1984, inauguração do Sambódromo, no Rio. A campeã do desfile daquele ano foi a Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira, com o enredo “Yes, Nós Temos Braguinha”, que homenageava o compositor João de Barro.

A festa carioca foi tão perfeita que nem mesmo a política e a democracia foram esquecidas. Das arquibancadas, surgiu a faixa pedindo eleição direta para presidente.

A profissão de jornalista sempre nos coloca diante de assuntos os mais variados. Ainda mais quando se é fotógrafo, o meu caso. Já cobri conflitos armados, crises sociais, Copas do Mundo, Olimpíadas, viagens presidenciais, batizado, enterro de bandido e anjo, tudo. Mas não escondo minha predileção pelos temas da política. Acho a política essencial para a democracia. E sem democracia, não dá. Por essa razão, em toda cobertura, mesmo que não seja da área do poder, nunca deixo de dar atenção a um ou outro detalhe, personagem ou uma imagem referentes à questão.

Foi o que aconteceu na inauguração da Passarela do Samba, na Avenida Marquês de Sapucaí. Pouco antes da entrada da primeira escola, a Acadêmicos de Santa Cruz, uma grande faixa – essa aí da foto – foi estendida por pessoas que apoiavam o Diretas-Já, movimento que exigiam eleições populares para presidente da República e o fim do regime militar. Não perdi a chance de registrar momento tão importante. Foi, aliás, a primeira vez que o Diretas ganhava a rua.

Meses após, em 16 de abril daquele mesmo ano, mais de um milhão e meio de pessoas cantavam o Hino Nacional no comício do Vale do Anhangabaú, em São Paulo. Depois, liderado por Doutor Ulysses Guimarães e com a adesão de democratas de todo o País, o movimento contagiou a maioria da população. Em 1989, vinte e dois candidatos concorriam à principal cadeira do Palácio do Planalto.

Hoje, em torno de 150 milhões de brasileiros vão às urnas escolher livremente seu presidente.

OrlandoBrito

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