O Brasil passa por um momento onde o otimismo engatinha na tentativa de vencer a descrença. Por enquanto, porém, os que propugnam maus augúrios predominam. Não à toa, já que há pelo menos três anos vivemos um período de intensa e persistente turbulência.
Esta inquietação parte sobretudo da economia em recessão e das revelações incessantes da Operação Lava-Jato. Ambas formaram um torvelinho que suga o ânimo da maioria cidadã – desempregados à frente, além dos desiludidos na capacidade da política de intermediar conflitos.
Neste começo de 2017, depois de muita desdita, surge uma réstia de luz entremeando as nuvens negras da tempestade recalcitrante. Em meio às más notícias a indicar que o inferno astral tupiniquim vai prosseguir, o ano novo começa a embalar prognósticos alvissareiros.
Até aqui cauteloso, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, previu que o PIB estará crescendo a um ritmo de 2% no último trimestre deste ano (vis-à-vis 2016). A previsão, revelada à jornalista Míriam Leitão, d`O Globo, está em confluência com a indicação altista de outros economistas.
Depois do erro nas projeções da inflação – que surpreendeu positivamente, e, agora, converge para 4,5% em 2017, o centro da meta do Banco Central -, as previsões do PIB são carregadas de reticências. Mas, em meio à tempestade surge um fio de esperança.
Os juros em queda, a safra de grãos recorde, a disposição de alguns empresários de voltar a investir, a elevação do grau de investimento da Petrobras são indicadores de que o ano pode ser melhor do que os anteriores. É neste cenário que aposta o Governo.
Se esta réstia vai dar lugar ao sol ou se o tempo fechado vai continuar predominando não dá pra saber. A imponderável Lava-Jato, a calamidade em alguns entes federados e a persistência dos políticos em resistir à assepsia exigida pelas ruas podem precipitar novos temporais.
No entanto, nada vai catapultar a esquálida popularidade do presidente Michel Temer enquanto o crescimento não voltar – e com ele o indispensável regresso do emprego. É o PIB de Meirelles que vai determinar se o presidente irá se manter adernado nas águas da recessão ou vingar mares de bonança.
Se quiser ajudar seu ministro, cabe a Temer purgar seu governo das impurezas que ele converteu em aliados. Ao persistir na velha política, preservando em derredor suspeitos de corrupção, dificilmente o PIB de Meirelles vai se converter em sortilégio para a conquista da credibilidade.