A sustentação do presidente Michel Temer, que pode perder o mandato acusado de corrupção pelo Ministério Público Federal, estriba-se em pelo menos três fatores sobre os quais ele tem pouco ou nenhum domínio. São eles a mobilização das ruas, o entendimento a respeito do sucessor e a bala de prata acusatória.
Uma rápida averiguação entre movimentos sociais indica que não há, até aqui, sinal de mobilização popular exigindo a deposição do mandatário. Sem as ruas, leia-se vontade popular, nem a presidente Dilma Rousseff (2016), tampouco Fernando Collor (1992), teriam perdido o mandato.
Ao abordar deputados federais no Salão Verde da Câmara percebe-se que sobre eles não há pressão significativa para, daqui a pouco, votarem “sim” pela admissibilidade da denúncia contra o mandatário, o que determinaria seu afastamento. Como registrou a jornalista Maria Cristina Frias, para o presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Robson Andrade, “chega de turbulência”. Ou seja, “melhor continuar com o presidente Michel Temer”.
Bala de prata
Um sucessor que agregasse multidões precisaria estar descolado do Congresso Nacional, imune à Lava-Jato de Sérgio Moro e, para agradar o empresariado e a mídia, aceitar tocar as reformas engendradas por Temer. Se convencer os grandes partidos que não pleiteará a reeleição em 2018 seria o sucessor ideal. Este nome não existe.
Ainda da conversa com deputados federais, que, por determinação constitucional, detêm o poder majoritário de escolher o substituto por via indireta e unicameral, sobressai o nome do atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia. O carioca, hoje favorito entre seus pares, porém, empolga pouca gente fora dos tapetes verdes do Parlamento e da torcida do Botafogo.
Disparar a prova fatal contra Temer soa redundante diante das evidências que recaem sobre o presidente da República – cargo que, moralmente, exigiria persona acima de suspeitas bem menos palpáveis do que as denunciadas. Que provas seriam estas? Uma nova delação, uma conta bancária secreta, um novo áudio com evidências inda mais vítreas dos que as já divulgadas podem engatilhar a bala de prata acusatória. Disposição para dispará-la não falta ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, algoz do mandatário.
O medo do cárcere
A consolidação de qualquer um destes três fatores, dos quais depende sobremaneira a salvação de Temer, é independente – embora refletir-se-iam uns nos outros. A pressão popular sobre a Câmara costuma se consolidar mais perto das votações abertas e televisionadas.
Ruas inflamadas dependeriam de um sopro fortuito a incandescer a brasa ainda quente e latente da patuleia desiludida com a rapinagem provocada pelo conciliábulo PT-PMDB. Um aumento extemporâneo de passagens de ônibus, como soeu acontecer, pode ser o bafejo que estimularia novas manifestações.
Um sucessor que agradasse a maioria dos agentes políticos derivaria de um intrincado arranjo, o qual, diante do jogo partidário e eleitoral inconciliável, parece distante. A escolha do eventual substituto seria, mais provavelmente, precipitada pela deposição iminente do presidente. Por fim, novas provas dependem de investigações.
O abandono da nau temerista pelo PSDB, dependendo de como o faça, certamente contribuiria para precipitar a queda de Temer. A deterioração das contas da União, já apontadas com preocupação por economistas, tiraria do mandatário importante sustentáculo, qual seja, o precário equilíbrio fiscal. Há, ainda, as Diretas-Já, preferida do povaréu e do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Desenlaces que, por ora, o mandatário mantém alguma ingerência.
Contra tudo isto há a disposição descarada de Temer e seus principais escudeiros, a maioria igualmente enrolada com a Lava-Jato, de resistir para preservar a liberdade. Eis aí, leitor, fator determinante que moverá a grei que hoje dirige o Brasil: o medo do cárcere. Perder os postos de comando implicará, provavelmente, cair nas garras do sufeta de Curitiba, o caçador de meliantes do erário.
Publicado no Blog da Política Brasileira / Arko Advice