As manifestações de 2013 tiraram os chamados direitistas do Brasil do armário – antes talvez acanhados pelos 21 anos da ditadura militar. Dali em diante, liberais, libertários, conservadores nos costumes, direitistas em geral perceberam que não estavam sozinhos.
Com a ajuda da internet viram que eram muitos. E tinham algo em comum: a ojeriza à chamada esquerda que dominava o cenário político nacional desde 1995, quando Fernando Henrique Cardoso assumiu a Presidência da República.
O assalto ao erário liderado pelo PT, conforme sentenciou o Judiciário – primeiro no Mensalão e, depois, na Lava-Jato -, cevou movimentos direitistas de tendências diversas. Não estavam sós e eram muitos, vislumbraram.
O deputado federal Jair Bolsonaro percebeu que a chamada direita se organizara em grupos diversos, mas estava dispersa. Aglutinou-os. Elegeu-se presidente da República na esteira do amplo sentimento antipetista espraiado na sociedade até hoje, além das genuínas convicções à direita.
Multidões de radicais
Hoje, pesquisas de opinião indicam que o grupo bolsonarista renitente abrange algo como 30% do eleitorado. Outros 30% mantêm-se fiéis à chamada esquerda, cujo expoente é o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Duas multidões que dominam o cenário político do Brasil.
Não interessa a ligação com milicianos, as evidências de enriquecimento ilícito, o desprezo à democracia, o aparelhamento do Estado e as provas de saque ao erário. Bolsonaristas e lulistas jazem empedernidos diante de seus líderes.
Nos dois grupos há um arco-íris de matizes, tanto da chamada esquerda, quanto da chamada direita. Restam, grosso modo, 40% de brasileiros que não se alinham aos extremos.
Não dá pra antever se Bolsonaro irá se reeleger em 2022. Aliás, não é possível saber se ele irá estar sentado na cadeira presidencial para tentar a reeleição.
Mas é previsível que o prosseguimento de seu governo irá reforçar a dualidade política que emperra o País – na economia, no desenvolvimento social e, em tempos de coronavírus, na saúde. Caso vença o outro lado, com Lula (o que parece pouco provável visto na perspectiva efêmera de 2020) ou com um preposto seu, a polarização irá prosseguir.
Equilibrado, temperante e honesto
A opção à esta nociva radicalização seria o surgimento do moderado desconhecido. Aquele político que conseguiria aglutinar o centro amorfo, provavelmente garantindo uma vaga num, hoje, provável segundo turno.
O moderado desconhecido poderia evitar a radicalização, diferentemente se um ou outro lado extremo estiver no poder. Caberia a ele manter-se equidistante dos dois polos.
Para governar, seguindo a lição de democratas bem-sucedidos, teria que ampliar suas alianças. Poderia, para isto, buscar as franjas dos dois lados políticos majoritários da sociedade brasiliana, isolando, assim, os extremos radicais.
Aos eleitores, o moderado desconhecido ofereceria a volta à normalidade institucional. Posicionar-se-ia como um democrata, buscando, como fazem os estadistas, unir a Nação em torno de ideais como a igualdade de oportunidades, a prosperidade econômica e o bem-estar social.
Diante dos brasileiros, ele irá defender princípios como a paz e o diálogo. Para isto, terá que ser honesto e tolerante.
Antes, contudo, o moderado desconhecido precisará ter a virtude da política e o dom da retórica. Convencer e arregimentar aliados e falar às massas que, porventura extenuadas de dicotomias extremistas, busquem um pacificador.
Salvando a pátria
Talvez o maior desafio seja o de convencer os eleitores de que extremistas no poder geram reação contrária e de mesma intensidade. Se existe, o moderado desconhecido terá que sobrepujar uma tendência de parte do eleitorado, a de eleger salvadores da pátria.
Mas, se quiser mesmo salvar a pátria, o moderado desconhecido precisará fugir dos extremos e adotar a temperança e o equilíbrio como conduta governamental. Não, leitor eleitor, não sei onde vive, de que se alimenta, se ele assiste à CNN ou à Fox News.
Porém, tão provável como o Internacional deve manter a supremacia nos greNais é antever que a hodierna polarização radicalizada nos levará, no final da década que se inicia, à constatação corriqueira no Brasil. Findaremos mais uma década perdida, com a imprescindível colaboração dos eleitores.
Marcello & Bach
Por falar em Internacional, Luis Fernando Verissimo elegeu o adágio do concerto para oboé e cordas em ré menor de Alessandro Marcello, depois adaptado por Johann Sebastian Bach para o cravo, “a música mais bonita já feita na Terra”. Aqui, uma versão para piano do concerto, com os três movimentos, pelas mãos da georgiana Mariam Batsashvili.