O novo presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, preparou-se com antecedência para a eleição de 2021 que o conduziu a um dos principais postos de poder na República. O presidente Jair Bolsonaro mergulhou com afinco nas redes antissociais muito antes de enfrentar a campanha eleitoral de 2018.
Ambos enfrentaram oposição dispersa. E soberba.
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Na Câmara, o deputado Rodrigo Maia, presidente da Casa por quatro anos, deixou para a última hora o anúncio de seu candidato. Como se bastasse seu aval para que os votos brotassem das urnas secretas. Não levou.
Na sucessão de Michel Temer, políticos tradicionais se lançaram à corrida presidencial como se o capitão-mor não existisse. Existia. Quem acompanhou Os Divergentes soube antes da noção do perigo. Enquanto ele cevava as urnas com o que os eleitores queriam ouvir – discurso antipetista, falas antipoliticamente corretas, narrativa antidireitos humanos, ataques ao desvirtuamento da família tradicional -, jornalistas julgavam encurralá-lo perguntando se ele havia apoiado a ditadura militar.
Hoje, a chamada esquerda, como sempre, se despedaça em candidaturas mil. Na chamada direita surgem tentativas moderadas para tentar substituir o capitão-mor – caso não apareça um candidato valerá a máxima “se não tem tu, vai tu mesmo”.
Por enquanto, o nome mais provável no segundo turno do pleito de 2022 é mesmo Bolsonaro. Presidentes da República, desde que com aprovação razoável e verbas públicas, sempre largam com vantagem. É como jogar em casa e com torcida única, pois o adversário é contra aglomeração. Mesmo que seja um presidente que não cuide nem da economia nem da saúde, mas de armar a população, acumpliciar-se com PMs, permitir a devastação do meio ambiente, ignorar vírus letais & angariar o apoio dos militares com soldos rotundos e quartéis reequipados.
Para os eleitores mais afinados com a chamada direita tradicional, caso não apareça algo melhor, Bolsonaro já os representa – mal, mas representa. Já a chamada esquerda começa, como há décadas, orbitando em torno do PT, uma pesada mala para carregar com sua tendência hegemônica e histórico de negacionismo da corrupção.
Após a surpreendente eleição de Bolsonaro em 2018, que, mesmo parido e criado na velha política, convenceu 57,7 milhões de eleitores representar a nova política, não há como prever 2022. A não ser que o hodierno presidente está no páreo.
Menos pelo que ele faz, mais pelo que os outros fazem. Sua vitória nas sucessões das mesas do Senado e da Câmara indica que ele sabe jogar. Pode não saber governar, mas sabe como derrotar adversários dispersos que insistem na polarização.
Até lá, como já leram meus 17 leitores, quem sabe o moderado desconhecido apreenda a lidar com as redes antissociais e adquira apoio para, pelo menos, chegar ao segundo turno. Não precisa ser brilhante, basta não ser extremista e ter algum bom senso.
Devaneio? Meu único devaneio deste carnaval pudico é o de que o Inter volte a ser campeão brasileiro no fim de semana. As eleições? Deixemo-las aos que sobreviverem.