Arthur Lira, novo presidente da Câmara, foi de uma precisão cirúrgica quando diagnosticou que o caso do deputado Daniel Silveira é um ponto “absolutamente fora da curva”. A “curva” na Câmara é preservar os mandatos de acusados de corrupção e esticar a corda até para supostos mandantes de assassinato como a deputada Flordelis. O boçal Daniel Silveira, bolsonarista raiz, conseguiu a proeza de sair fora desse script pela impunidade e trombar com os 11 ministros do STF, em uma rara unanimidade.

Daniel Silveira – Foto Orlando Brito

O recado de Lira foi entendido por centenas de deputados que, boa parte em causa própria, temem em algum momento ir para a cadeia por seus malfeitos. Por ser uma exceção “fora da curva”, a Câmara nessa sexta-feira (19) vai referendar por ampla maioria a decisão do STF de mandar prender o tal Daniel Silveira. Vão votar contra Eduardo Bolsonaro, o 003, e sua turma que, sem o Centrão, têm pouca relevância nas votações na Câmara.

Não chega a ser um avanço, mas impõe algum limite ao pessoal que aposta na defesa da volta da ditadura militar. Também vai dar um choque de realidade na tropa bolsonarista, que passou a se sentir dona do pedaço, depois das eleições para as presidências da Câmara e do Senado. Não são eles que vão dar as cartas ali. São muito amadores em um jogo de profissionais.

Bolsonaro mudo sobre Silveira – Foto Orlando Brito

Mais esperto do que seus fanáticos seguidores, o presidente Jair Bolsonaro continua solenemente ignorando o caso que até ensaiou uma crise institucional. Nenhuma palavrinha no cercadinho do Palácio do Alvorada. Trata o aliado Daniel Silveira, também suspeito de ligações com as milícias do Rio de Janeiro, como boi de piranha, o que é sacrificado para o rebanho atravessar o rio.

Além de não confrontar o Supremo Tribunal Federal, em que Arthur Lira e muitos aliados são alvos de investigação, manter Daniel Silveira na cadeia gera um ganho extra que é a aprovação popular. É transformar o limão em limonada de uma gestão parlamentar que tem como meta reverter os avanços que possibilitaram a Lava Jato e outras grandes investigações sobre corrupção.

A escolha por Arthur Lira do deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP), um promotor público que já havia se manifestado a favor da punição de Daniel Silveira, foi outro recado para a turma que teme estar abrindo um precedente. Daniel passou de todos os limites. O jogo está jogado.

A conferir.

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