A ameaça do general Mourão e o golpe retórico do PT

1966. Foto OrlandoBrito

Lá por meados do século XX, quando Os Divergentes já largavam as fraldas (de pano) mas não as diversões pueris, havia um recurso teatral (também utilizado no cinema e nos desenhos animados) que permitia contrastar realidade e fantasia – metaforicamente, claro. Tratava-se da brincadeira do fantasma.

Enquanto um dos participantes do folguedo, paramentado de fantasma, fazia evoluções e sons assustadores, os demais fingiam amedrontar-se. Nestas tramas surgia, então, uma assombração “de verdade” que levava todos a se dispersar.

Nada como um fantasma “de verdade” para aflorar o medo genuíno. E revelar que farsas são aprazíveis no teatro, não no cotidiano da política.

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O general Hamilton Mourão desvelou há pouco mais de uma semana que a intervenção militar pode estar insepulta. Ou, pelo menos, que a tutela da caserna sobre a vida nacional persevera. Eis um fantasma autêntico.

General do Exército, Antônio Hamilton Martins Mourão. Foto Divulgação/ Exército Brasileiro

A ameaça de golpe (intervenção militar sem eufemismo) faz parte da história republicana brasileira. Ou os militares estavam no poder (golpe de 1964), ou deles dependia a permanência de um civil à frente da Nação.

O espectro dos quartéis era presença indefectível. Tudo que de importante se pretendia fazer requeria antes resposta a uma pergunta: mas o que os milicos vão achar disso?

As palavras de Mourão foram claras. A ausência de uma punição efetiva a um indisciplinado general de alto coturno reforçou a ameaça. Um presidente fraco, incapaz mesmo de repreender seus subordinados, torna a possibilidade do golpe nuvem carregada a pairar no horizonte.

Autocomiseração

Diante do retrocesso à vista, o discurso adotado pelo PT (e partidos que gravitam na sua órbita) expõe com mais clareza sua essência propagandística. Afinal, o impeachment de 2016 foi respaldado por um Judiciário majoritariamente escolhido pelo petismo.

As amplamente majoritárias votações da Câmara e do Senado, amparadas à larga no rito constitucional, não ocorreriam sem a decisiva pressão das ruas. As fraudes fiscais redundaram na maior e mais longa recessão da história. (Agora, como revelado pela Lava-Jato, sabe-se que a mandatária incursionou por outros malfeitos).

Como consequência, quebradeira disseminada e desemprego em escala industrial. Sem falar na corrupção nunca antes vista em Pindorama. Boa parte dela atestada por velhos militantes e neocompanheiros, como empresários e banqueiros amigos.

À deposição de Dilma Rousseff seguiu-se um País com liberdade plena, onde, inclusive, o direito de mentir na praça pública virtual da internet foi preservado. O Judiciário prosseguiu ora condenando, ora absolvendo.

O Legislativo, eleito, manteve-se na senda fisiológica de sempre. A Lava-Jato expandiu seus tentáculos para outras siglas.

O discurso da sinistra objetiva, por meio da autocomiseração, desviar-se do enfrentamento das suas mazelas. Ao mesmo tempo que propicia a fuga do debate onde teria que encarar o espelho doloroso da realidade, a estratégia propagandística visa prover conforto à militância decepcionada.

Golpista de verdade extingue as garantias individuais, amordaça a imprensa, destitui o Legislativo, assume o papel do Judiciário, aniquila a cidadania, escamoteia a corrupção. Enfim, à moda dos ditadores, prende e arrebenta. Diante do desembainhar de baionetas, o “golpe” da sinistra resume-se ao que sempre foi: um lenitivo ao declínio.

O NOME DISSO É MÚSICA: Tomaso Albinoni.

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