Lá por meados do século XX, quando Os Divergentes já largavam as fraldas (de pano) mas não as diversões pueris, havia um recurso teatral (também utilizado no cinema e nos desenhos animados) que permitia contrastar realidade e fantasia – metaforicamente, claro. Tratava-se da brincadeira do fantasma.
Enquanto um dos participantes do folguedo, paramentado de fantasma, fazia evoluções e sons assustadores, os demais fingiam amedrontar-se. Nestas tramas surgia, então, uma assombração “de verdade” que levava todos a se dispersar.
Nada como um fantasma “de verdade” para aflorar o medo genuíno. E revelar que farsas são aprazíveis no teatro, não no cotidiano da política.
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O general Hamilton Mourão desvelou há pouco mais de uma semana que a intervenção militar pode estar insepulta. Ou, pelo menos, que a tutela da caserna sobre a vida nacional persevera. Eis um fantasma autêntico.
A ameaça de golpe (intervenção militar sem eufemismo) faz parte da história republicana brasileira. Ou os militares estavam no poder (golpe de 1964), ou deles dependia a permanência de um civil à frente da Nação.
O espectro dos quartéis era presença indefectível. Tudo que de importante se pretendia fazer requeria antes resposta a uma pergunta: mas o que os milicos vão achar disso?
As palavras de Mourão foram claras. A ausência de uma punição efetiva a um indisciplinado general de alto coturno reforçou a ameaça. Um presidente fraco, incapaz mesmo de repreender seus subordinados, torna a possibilidade do golpe nuvem carregada a pairar no horizonte.
Autocomiseração
Diante do retrocesso à vista, o discurso adotado pelo PT (e partidos que gravitam na sua órbita) expõe com mais clareza sua essência propagandística. Afinal, o impeachment de 2016 foi respaldado por um Judiciário majoritariamente escolhido pelo petismo.
As amplamente majoritárias votações da Câmara e do Senado, amparadas à larga no rito constitucional, não ocorreriam sem a decisiva pressão das ruas. As fraudes fiscais redundaram na maior e mais longa recessão da história. (Agora, como revelado pela Lava-Jato, sabe-se que a mandatária incursionou por outros malfeitos).
Como consequência, quebradeira disseminada e desemprego em escala industrial. Sem falar na corrupção nunca antes vista em Pindorama. Boa parte dela atestada por velhos militantes e neocompanheiros, como empresários e banqueiros amigos.
À deposição de Dilma Rousseff seguiu-se um País com liberdade plena, onde, inclusive, o direito de mentir na praça pública virtual da internet foi preservado. O Judiciário prosseguiu ora condenando, ora absolvendo.
O Legislativo, eleito, manteve-se na senda fisiológica de sempre. A Lava-Jato expandiu seus tentáculos para outras siglas.
O discurso da sinistra objetiva, por meio da autocomiseração, desviar-se do enfrentamento das suas mazelas. Ao mesmo tempo que propicia a fuga do debate onde teria que encarar o espelho doloroso da realidade, a estratégia propagandística visa prover conforto à militância decepcionada.
Golpista de verdade extingue as garantias individuais, amordaça a imprensa, destitui o Legislativo, assume o papel do Judiciário, aniquila a cidadania, escamoteia a corrupção. Enfim, à moda dos ditadores, prende e arrebenta. Diante do desembainhar de baionetas, o “golpe” da sinistra resume-se ao que sempre foi: um lenitivo ao declínio.
O NOME DISSO É MÚSICA: Tomaso Albinoni.