De acordo com a última pesquisa Datafolha, a diferença de intenções de voto entre Jair Bolsonaro, na dianteira, e Fernando Haddad caiu 6 pontos percentuais (p.p.) em uma semana. Esta é uma boa notícia.
A distância, que era de 18 p.p. na pesquisa do dia 18 de outubro, caiu para 12 p.p. no levantamento do dia 25. Este hiato agora equivale a quase 15 milhões de votos.
Ou seja, para cada voto que Haddad virar em cima de Bolsonaro a diferença cai em dobro. Um voto a menos para o candidato do PSL, um voto a mais para o candidato do PT.
Assim, Haddad precisaria virar em torno de 7,5 milhões de votos bolsonaristas para empatar com o adversário. Não se trata de tarefa impossível, embora muito difícil já que, a esta altura do segundo turno, os votos estão bastante consolidados.
Expectativa frustrada
Parte expressiva do eleitorado deixa a decisão do voto para os dias anteriores ao encontro com a urna. Isto explica a colossal movimentação de intenções de votos nas 48 horas antes do voto do primeiro turno – mudanças que os institutos de pesquisa não conseguiram captar.
Mas, caso a diferença de votos entre ambos caia de fato, o futuro presidente da República pode ser eleito com diferença não tão expressiva como se prenunciava nas primeiras pesquisas deste segundo turno. Há duas, três semanas chegou-se a prever uma votação recorde pró-Bolsonaro.
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Se a queda na diferença entre ambos for confirmada nas urnas teremos duas possibilidades à vista. A mais provável, a vitória de Bolsonaro, por uma margem menos expressiva do que a esperada.
A mais improvável, a vitória de Haddad, por uma margem muito estreita e, até aqui, inesperada. Saberemos o resultado na noite de domingo, 28.
De qualquer jeito, confirmada qualquer destas duas hipóteses, a notícia é boa para o Brasil. Significará um freio de arrumação promovido pelos eleitores de um País polarizado, em crise política e econômica há quatro anos.
Pacificação utópica
A vitória com ampla vantagem paradoxalmente poderá levar a mais radicalização. E, neste caso, deixar o vencedor à vontade para ignorar ou, pior, esmagar os eleitores adversários – acirrando ânimos exaltados desde os protestos de 2013.
“Isto se pretender pacificar o País
e tornar-se presidente do Brasil,
não de um pedaço dele.”
Se a vitória for apertada, o eleito não poderá – ou, pelo menos, não deverá – ignorar uma expressiva fatia do eleitorado que não desejava sua eleição. Se for democrático – coisa que as campanhas não deram mostras claras, pois flertaram ambas com o autoritarismo -, o eleito terá que adotar tom conciliatório.
Entronizado no posto mais elevado da administração pública, o novo presidente precisará despir-se da roupagem beligerante da campanha para adotar a indumentária de presidente de todos, não apenas dos seus eleitores. Isto se pretender pacificar o País e tornar-se presidente do Brasil, não de um pedaço do dele.
Tudo isto pode parecer utópico. Mas é o que há.