No próprio Supremo Tribunal Federal, há tempos a desenvoltura do ministro Luís Roberto Barroso no papel de paladino e defensor número 1 da Lava Jato – com todo o espaço midiático que conquistou com isso – vinha incomodando alguns colegas, e não falamos aí apenas do arquiinimigo Gilmar Mendes. Esses ministros acham que Barroso, inebriado com os holofotes, vinha trabalhando mais em sua imagem pessoal do que na da instituição em suas seguidas aias-justas relacionadas à Lava Jato.
Mas engana-se redondamente quem aposta numa divisão fatal e, sobretudo, na possibilidade de o STF vir a aceitar qualquer retaliação contra Barroso, como o pedido de impeachment sugerido pelo ministro Carlos Marun. Nessas horas, o que fala mais alto na Suprema Corte é o espírito de corpo, e a óbvia constatação de que, se é com ele hoje, amanhã pode ser comigo. É por isso que, mesmo sendo minoria absoluta em muitas de suas posições e destemperos, Gilmar nunca perdeu a blindagem do tribunal.
E Luís Roberto Barroso também não vai perder. Ao politizar o embate, da mesma forma que fez com o ex-PGR Rodrigo Janot, o presidente Michel Temer tenta escapar ao principal: os fatos relacionados às investigações contra ele, que ganham concretude.
Os colegas de Barroso podem até discordar do ímpeto e do timing, mas as apostas no STF são de que, se tiverem que ser examinados pelo plenário procedimentos como a quebra do sigilo bancário de Temer e seus amigos, a maioria da Corte vai aprovar as decisões do colega e bancar a investigação do presidente da República. Não há como não ser assim, diz um interlocutor dos ministros, lembrando que, num ambiente em que o STF até agora nada fez para impedir a prisão do ex-presidente Lula, não há como justificar qualquer acochambramento beneficiando Temer.
Por isso, Michel Temer não vai nem tentar recurso ao plenário contra a quebra de sigilo, apesar de ter colocado o Palácio do Planalto para esbravejar contra a decisão. Já no caso da exclusão dos condenados por corrupção do indulto de Natal, determinada monocraticamente por Barroso, a situação é bem diferente. É possível que, no plenário, o argumento de que Barroso extrapolou ao invadir uma competência privativa do presidente da República tenha acolhida. Seria, até, uma forma de os demais ministros cortarem um pouco as asas do colega sem prejudicar a imagem ou comprometer o tribunal.
Esses são os recados que têm chegado ao Planalto.