Há muito não há dúvidas sobre a votação de hoje no Senado, onde basta maioria simples para aprovar a pronúncia de Dilma Rousseff e tornar a presidente da República ré. Mas, se já planejava usar a ocasião para reunir votos suficientes para passar a ideia de que o impeachment é fatura liquidada, passando dos 54 necessários na votação final, agora, sim, é que o Planalto está se sentindo obrigado a dar uma tremenda demonstração de força. A rodada de matérias sobre delações do fim de semana, atingindo o próprio Michel Temer, disseminou o nervosismo entre os governistas.
Não há risco de derrota na votação da pronúncia hoje, e nem há indicação de que serão bem sucedidos os movimentos da atual oposição (e ex-governo) para adiar ou suspender o julgamento. Mas um número de votos abaixo dos 58 ou 60 que vem sendo alardeados pelos planaltinos nos últimos dias pode ser interpretado como sinal de fraqueza, ou como indício de deterioração de uma situação que, até agora, era para lá de tranquila.
A delação de Marcelo Odebrecht e de outros executivos ainda não foi nem concretizada e nem homologada. Mas, em política, os sinais às vezes são mais importantes do que os fatos concretos. E o que, em si, pode parecer uma bobagem ou um detalhe – como um punhadinho de votos a menos do que o esperado – pode desencadear um efeito imprevisível de bola-de-neve.
É por isso que o Planalto e seus articuladores estão hoje em alerta total, monitorando os senadores um a um, tanto para votar como para dar quorum. Não basta ganhar. Tem que ganhar muito bem, para garantir os prazos exíguos e o resultado futuro.