Está tudo junto e misturado no discurso dos que querem escapar da Lava Jato, mas chegou a hora de ficar bem claro que salvar a política não é, necessariamente, salvar os políticos. Pelo menos não a todos, por todas as razões que os levaram ao paredão da Lista de Fachin, que é mais de Janot do que dele.
Salvar a política hoje em dia é, antes de tudo, salvar o direito do cidadão de ter seu voto respeitado e ser legitimamente representado nas instâncias de decisão do poder. As distorções do atual sistema, entre elas a corrupção que dá vantagem aos que têm mais dinheiro, vêm distanciando cada vez mais aquela dupla que deveria ser inseparável: eleito e eleitor.
Só se salva a política, portanto, se dermos um cavalo-de-pau no sistema partidário e eleitoral, estabelecendo regras e fiscalização rigorosas para o financiamento de campanha e um mecanismo de votação que, por exemplo, eleja de fato os mais votados.
Há saídas exaustivamente discutidas, fórmulas bem sucedidas em outros países, mas que nunca conseguiram ser implantadas por aqui porque os políticos não conseguiam parar de olhar para o próprio umbigo. A solução da cláusula de desempenho para os partidos, por exemplo, deveria estar implantada há mais de dez anos, mas a voz do atraso falou através do STF, que resolveu derrubá-la. E estamos agora de volta ao mesmo ponto de décadas atrás.
A Lava Jato parece ter devastado todo o mundo político porque está atingindo as elites do poder e dos grandes partidos. Mas há políticos que não estão lá, e temos a obrigação de imaginar que essa minoria – que inclui gente sem mandato – não cometeu os atos que levaram os outros às listas de Janot e Fachin. Na própria lista, há, claramente, profundas diferenças, ainda que o maior número de seus integrantes vá ser investigado por corrupção.
É conversa para boi dormir essa de que, para salvar a política e evitar a eleição de aventureiros ou personagens fascistóides em 2018, temos que salvar os políticos da Lava Jato. Balela.
É possível salvar o sistema político mudando e aperfeiçoando suas instituições. E isso não precisa incluir anistia ao caixa 2 ou absolvição dos acusados, e nem um sistema de lista fechada para o eleitor votar às cegas. Haverá sobreviventes, inclusive da própria lista, que ainda vai andar muito, para fazer essas reformas.
Mas é preciso aceitar que alguns terão que morrer, ou seja, sair de cena e abrir espaço para o novo.