Considerações acerca da lama em que atolamos

Circula pela internet um texto que vale leitura. É importante neste momento em que deparamos com a lista do ministro do Supremo Tribunal Federal Edson Fachin e nos perguntamos o que fazer. Alguns dirão que a lista não é surpresa, que de há muito já se sabia que a política brasileira era exercida a partir de uma promíscua relação entre financiadores e financiados. Mas a novidade é que tal relação deixou de ser tolerada. E a lista coloca nas garras da Justiça praticamente toda a elite política brasileira (elite aqui não exatamente quanto à qualidade mas quanto ao poder exercido). E o problema agora é saber o que acontecerá em seguida.

No tolo mundo das redes sociais, há um bocado de gente que lê o parágrafo acima e fica imaginando que ele defende algum tipo de arranjo espúrio. Ler apressadamente é algo comun nesses tempos maniqueístas. A criminalização das horrorosas regras não escritas da política brasileira é um avanço desejado e que, tomara, não irá retroceder. O que se precisa, porém, é apontar para o passo seguinte. Qual será a solução que a sociedade encontrará para avançar a partir daí. Tomara, novamente, não abrindo mão da democracia.

O texto da Unicamp parece ser o início de uma necessária reflexão sobre o atoleiro em que nos metemos. Ele colhe cinco depoimentos de cientistas ligados à Universidade de Campinas sobre a lista de Fachin e seus efeitos. Pode ser lido aqui. As diferentes visões dos professores Eduardo Fagnani (Economia), Luiz Marques (Filosofia e Ciências Humanas), Reginaldo Moraes (Ciência Política), Roberto Romano (Filosofia e Ciências Humanas) e Sebastião Velasco e Cruz (Ciência Política) centram-se em pontos diversos do problema. Mas trazem em comum a constatação de que o relatório de Fachin e os elementos que o originaram, na investigação da Operação Lava-Jato, apontam para práticas generalizadas dos partidos políticos brasileiros.

Todos eles – da esquerda para a direita -, ou pelo menos todos os que de fato se tornaram perspectivas de poder, afundaram num sistema em que a disputa ideológica perde terreno para certo jogo de conveniências menores. Um jogo em que passa a valer mais a mera permanência no poder. Um jogo praticado por partidos sem consistência programática, formados por caciques regionais que não têm maiores interesses além de simplesmente manterem-se caciques. Um jogo de desvios de recursos, seja para a mera manutenção dessas posições política seja para o enriquecimento pessoal mesmo.

“Como governar o país com 30 partidos, em geral não ideológicos, não programáticos, apenas fisiológicos?”, pergunta o professor Eduardo Fagnani. Como observa o professor Luiz Marques, o vaticínio do senador Romero Jucá na sua famosa conversa com o ex-presidente da Transpetro Sergio Machado não se confirmou: a crise não se estancou com a entrega da cabeça da ex-presidente Dilma Rousseff e do PT. Porque aparentemente já não se aceita que o país seja governado por “30 partidos, em geral não ideológicos, não programáticos, apenas fisiológicos”.  Para o professor Reginaldo Morais, diante da amplitude de tudo, as negociações não estão mais claras. “O país está em situação de quase ilegalidade”, observa o professor Roberto Romano. “A situação está muito embaralhada, justamente porque o Judiciário, que deveria ser um elemento decisivo na solução, passou a fazer parte – essencial – do problema”, conclui Sebastião Velasco e Cruz.

A saída? Pode estar na sociedade. “Certamente, a reforma política não pode passar pelo Congresso, não pode passar pelos partidos políticos”, considera Eduardo Fagnani. Para que a sociedade, porém, possa ser ator determinante nesse processo, é necessário sair do jogo tolo e maniqueísta do FlaXFlu que por aqui se instalou. O país precisa de menos chefes de torcida e de mais artigos como o da revista da Unicamp.

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