Não chega a ser uma tragédia, para o prefeito João Dória, o crescimento de sua reprovação entre os paulistanos: 39% de ruim ou péssimo, número igual ao de Fernando Haddad com o mesmo tempo de governo, um pouco pior do que Marta Suplicy (34%), bem pior do que José Serra (23%) e Gilberto Kassab (27%). Não é tragédia porque, em tese, ele tem três anos para consertar. Mas é muito ruim e, sobretudo, uma lição para quem apostava numa ascensão meteórica a bordo do foguete do marketing: não basta fazer espuma, tem que governar de verdade.
A trajetória de Dória mostrou, acima de tudo, que o marketing, quando é demais, vira bicho e come o dono. Lá atrás, aliás, escrevemos isso aqui, quando havia uma espécie de encantamento geral da opinião pública e publicada com o prefeito de São Paulo e suas performances. Já estava claro que, com as fantasias nas ruas, as seguidas viagens, as falas excessivas, a obsessão pelas redes e a ambição desmedida que teve pouco cuidado em disfarçar, o prefeito estava indo com muita sede ao pote. Lambuzou-se.
Dória ficou over e atraiu para si as atenções de quem começou a reparar que, afinal, ele não vinha cuidando tão bem assim de São Paulo. Pior, passou a imgem de alguém ambicioso demais e ingrato com seu mentor e padrinho político, o governador Geraldo Alckmin – que, seguidor da velha sabedoria política, foi comendo o mingau de melado pelas beiradas e acabou por devorar o discípulo na disputa pela candidatura presidencial do PSDB.
Agora, Dória recuou, reaproximou-se de Alckmin e jurou fidelidade à sua candidatura. Mira o governo de São Paulo. Apesar dos reveses recentes, poderia ser, sim, um fortíssimo candidato, ainda mais se alavancado pelo hoje governador. Mas é um risco. A imagem de oportunista poderá ser usada por seus adversários, e o show de gestão que seria sua carta de apresentação na campanha pelo estado não se materializou. Sem contar que o esperto Alckmin – mais esperto porque tem cara de bobo – não confia mais nele.
Diz o bom senso que Dória, um sujeito inteligente e obstinado, deveria ficar onde está e cuidar do “lojinha”. Se recuperar o prestígio perdido à base de trabalho, ninguém o segura daqui a quatro anos…