Depois de um discurso inicial de grande peso político, digno de passar à história, Dilma voltou a ser Dilma no plenário do Senado. Foi tomada pelo espírito de São Tecnocrata e está usando seu tempo de resposta às indagações de senadores para falar das minúcias dos decretos e leis orçamentários, naquela confusa sopa de letras que mistura LDO, LRF, LOA e etc. A maioria das pessoas não sabe o que é isso e vai enjoar de assistir.
É certo que a presidente afastada tem que mostrar capacidade para se defender do ponto de vista técnico e Juridico. Mas todo mundo já viu isso. O que se espera dela em plenário é um discurso mais político, na linha da primeira intervenção.
Ao se ater aos aspectos técnicos, por exemplo, ela deixou de responder de responder a questões diversas de senadores. A de Simone Tebet, por exemplo, sobre o que faria com o ajuste fiscal se por acaso voltasse à presidência efetiva do país. Isso todo mundo quer saber.
Perdeu também a chance de falar sobre sua honestidade pessoal e sobre o respeito que seu governo teve às investigações da Lava Jato na resposta ao senador Lasier Martins. Ele chegou a ser deselegante ao acusá-la de omissa e conivente com a corrupção na Petrobras e em outros casos da Lava Jato. Deveria ter se defendido, em vez de tratar dos repetitivos decretos.
É possível, porém, que a decisão de não se aprofundar no tema Lava Jato tenha sido uma combinação com o ex-presidente Lula e dirigentes do PT. Afinal, eles não gostaram quando ela jogou a responsabilidade por acusações de caixa 2 para o partido. E seu temor é de que, falando de improviso, Dilma acabe deixando o PT em saia-justa.
A sessão foi suspensa para o almoço, mas se, depois disso, Dilma prosseguir nessa toada, aí é que não tem chance de mudar nada mesmo no plenário do Senado.