Difícil estabelecer conexão entre o recurso do ex-presidente Lula à Comissão de Direitos Humanos da ONU e a decisão do juiz federal do DF Ricardo Leite de torná-lo réu por obstrução de Justiça. Mas ninguém esperava que Lula se tornasse réu pela primeira vez nessa tarde modorrenta de sexta-feira, em Brasília, e pelas mãos de um juiz que não é Sergio Moro – alvo de suas reclamações e questionamentos de parcialidade.
Que parece resposta, parece, ainda que não exista um complô de juízes contra o petista. O fato é que o recurso de Lula à ONU incomodou, e muito, os personagens desse novo Judiciário que vai se formando a partir da primeira instância e também os opositores do PT. No mínimo, aumenta a desconfiança internacional em relação ao país e ao governo interino. Tornar Lula réu é uma forma desqualificar a reclamação do ex- presidente de estar sendo vítima de injustiça.
Pego de surpresa, Lula exacerbou o discurso, dizendo que terão que ter provas contra ele e repisando a tese do golpe em relação ao impeachment. É bom lembrar que, nos últimos dias, a defesa de Dilma por parte do ex-presidente andava pra lá de moderada, dando até a impressão de que ele havia jogado a toalha em relação à última votação do impeachment.
As primeiras reações de Lula nesta sexta, bem como a impressão de interlocutores petistas, porém, indicam que ele vai partir para o confronto, tentando provocar na militância e nos simpatizantes reação semelhante à que ocorreu quando sofreu a condução coercitiva na Lava Jato. A ver. A única certeza é que o clima volta a esquentar.