Em meio à rasgação de sedas dos discursos de transmissão de cargo dos ministros palacianos, salvou-se a mensagem do novo chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, que deu o recado que faltou na do chefe na véspera. Dirigindo-se sobretudo aos parlamentares, disse que “o diálogo será a marca deste governo”, prometendo que a administração Bolsonaro irá surpreender pela capacidade de “dialogar, dialogar, dialogar”. Defendeu um “pacto político” entre governo e oposição.
Todo mundo sabe que, no atual no clima político, esse pacto jamais será celebrado. Mas o apelo nesse sentido é sempre um gesto imprescindível para quem chega ao poder. Ao manter a retórica inflamada nos discursos da posse, Bolsonaro passou por cima disso e não avançou em nada para desanuviar o ambiente político. A tentativa de Onyx agora é, mais do que fazer um impossível acordo de paz, cacifar-se como o sujeito do diálogo, sobretudo com o Legislativo.
Note-se que, em suas primeiras falas no poder, os novos ministros demarcaram espaços. Onyx pouco falou de gestão, mas muito de política e diálogo. Já o general Santos Cruz, que assume a secretaria de Governo – visto como um possível rival da Casa Civil na articulação política- disse que sua função é o relacionamento institucional e com toda a sociedade. Mas citou expressamente prefeitos e governadores, sem pronunciar a palavra Congresso. Para bom entendedor, esse será o terreno de Onyx.
Santos Cruz, por sua vez, se colocou como um elemento de coordenação também com os ministérios, mostrando que esta não será uma função privativa da Casa Civil – como ocorreu nos tempos de Eliseu Padilha, que em seu discurso final fez questão de dar ênfase a essa atuação no caso das Olimpíadas, da greve dos caminhoneiros e da migração venezuelana.
Já o general Augusto Heleno, novo chefe do GSI, fez questão, ao discursar, de não mostrar o que ele é de fato: uma espécie de mentor, guru de Bolsonaro e demais palacianos. Disse que sua função será cuidar da segurança e das viagens presidenciais, além de coordenar o sistema de inteligência do governo que, numa indelicadeza desnecessária, disse que fora “derretido pela sra Rousseff, que não acreditava em inteligência”.
Os ministros do governo Temer que se retiram fizeram questão, sem exceções, de fazer discursos tecendo loas ao novo governo. Um desavisado poderia até imaginar que tenham feito campanha por Bolsonaro e estariam assumindo os cargos que deixaram. Sergio Etchegoyen, por exemplo, bateu continência para Bolsonaro, engrenando num discurso em que criticou “o populismo demagógico e irresponsável que muito mal nos causou”, elogiando “nossa gente que soube posicionar-se”.
Carlos Marun chegou a lembrar, na tribuna, que sua mulher estava na solenidade “vestida de verde-oliva”. Elogiou Bolsonaro, que segundo ele “sempre mostrou um inarredável e imenso amor ao Brasil”. Teve lá suas razões, e talvez a principal delas seja a recente nomeação para o conselho da Itaipu Binacional, que não quer ver revogada pelo novo governo…