Primeiro, eles tentaram produzir alguém de fora, mas de confiança, tipo Luciano Huck. Não deu certo. Chegaram a alimentar esperanças num candidato do governo Temer, que ia “consertar a economia” e ganharia a eleição, quem sabe Geraldo Alckmin ou Henrique Meirelles. Deu tudo errado. Alguns passaram a admitir Jair Bolsonaro, mas só em último caso, dada a incerteza e o peso desta candidatura. Agora, a onda do establishment órfão – que acima de tudo quer evitar a vitória do PT – é Ciro Gomes.
Esses setores, representados no PIB, nos partidos da centro-direita, no mercado e em parte da mídia, passaram a última semana apavorados diante do cenário que nunca esperaram. Afinal, imaginavam estar livres do PT há tempos. Achavam que Lula, condenado, não seria candidato, e que, se fosse, não teria tantos votos e nem o poder de transferi-los. O establishment não é mesmo muito bom de previsões quando estas envolvem o povo.
De segunda e sexta-feira, Fernando Haddad cresceu 4 pontos na pesquisa do Datafolha, e empata agora com Ciro em segundo lugar, com 13%, numa clara trajetória de ascensão. Mantidas as mesmas condições de pressão e temperatura, as previsões dos institutos de pesquisa colocam o candidato de Lula no segundo turno daqui a três domingos.
E agora? O movimento do mercado, dólar subindo e bolsas caindo segundo as oscilações de saúde do candidato do PSL, mostram que Bolsonaro é uma opção concreta para o establishment. Mas tem um custo bastante alto, e as fotos do candidato internado fazendo gesto de armas com os dedos e as declarações anti democráticas de seu vice – que quer fazer uma Constituição à la Pedro I – mostraram isso esta semana. O crescimento de Ciro, porém, abriu-lhes um caminho que, se não cogitavam antes, começa a parecer menos espinhoso.
Se o objetivo é impedir a vitória de Haddad, até Ciro – que sempre apanhou dessa turma e nada tem a ver com ela – serve. Quem diria. Já estamos ouvindo de interlocutores ligados ao PIB afirmações simpáticas ao candidato do PDT, que critica o sistema financeiro e promete taxar os ricos. O pessoal do Centrão, que o esnobou, já começa a reatar laços.
Cedo para dizer se essa operação irá em frente, se Ciro continuará crescendo – o que acontecia sobretudo às custas de votos da esquerda antes do lançamento de Haddad – viabilizando-se como uma opção no segundo turno, ou se terá estagnado com a ascensão do petista.
O certo é que se trata de mais um episódio da série “o que o desespero não faz”, uma das mais assistidas da temporada de 2018.