Ainda assistiremos a muitos rounds da luta entre os titãs Lula e Moro até o desfecho previsível de um embate em que um lado tem o poder de condenar o outro. Todo mundo sabe que o juiz Sérgio Moro vai condenar o ex-presidente Lula, e a dúvida é só quando isso vai acontecer. Nesse meio tempo, porém, o ex-presidente vem sendo bem sucedido na estratégia que lhe resta: politizar ao máximo o processo, o que quer dizer puxar o juiz para duelar em seu campo.
O objetivo claro de Lula é eivar o processo de atitudes questionáveis do juiz, movidas por sentimentos e propósitos aparentemente fora dos autos, que mais adiante possam ser objeto de contestação judicial e engrossar uma narrativa na qual ele ocupa o papel de vítima.
E tem conseguido tirar Moro do sério, como por exemplo no momento em que o juiz determina que o réu ex-presidente seja obrigado a assistir presencialmente os depoimentos de 86 testemunhas convocadas por sua defesa – decisão, aliás, na qual o próprio Moro parece estar voltando atrás. Pode até não ser razoável convocar 86 testemunhas, mas se a lei faculta isso ao acusado, o juiz tem que aceitar e fazer cara de paisagem, sem represálias.
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Da mesma forma, Lula e o PT querem transformar o depoimento do ex-presidente em Curitiba – o primeiro embate cara a cara – num evento político, cheio de manifestantes. Muito provavelmente, vão conseguir, e pega mal para Moro adiar ou mudar o dia de surpresa para desmobilizar isso. No momento, está parecendo um jogo de gato-e-rato – e não a condução de um processo judicial – em que o PT organiza a manifestação e o juiz tenta esvaziá-la.
Quem perde mais com esse jogo? O juiz, que embora ainda tenha enorme apoio da opinião pública, corre o risco de desgastar-se ao entrar em campo e começar a chutar o adversário, saindo da posição de árbitro e virando jogador. Não precisa. Quem manda no campo e apita o fim do jogo é ele.