Lá de Curitiba, o ex-presidente Lula tem deixado claro a quem o visita que está muito satisfeito com o êxito de sua estratégia de transferência de votos para Fernando Haddad, e acha que a curva continua subindo até dia 7. Mas está mandando um aviso aos navegantes: não é hora de mudar de curso, ou seja, assumir compromissos com o mercado e outros setores do establishment.
O ex-presidente identificou pressões dentro do próprio partido para que Haddad antecipe para o primeiro turno alianças e conversas típicas do segundo, numa forma de consolidar sua dianteira diante de Ciro Gomes e enfraquecer o rival Jair Bolsonaro. Não é esse o conselho de Lula, que está orientando Haddad a manter o discurso à esquerda, sob o argumento de que o povão não gosta de recuos e não vai aceitar nada que se assemelhe a alguma negociata eleitoral com forças como o centrão, por exemplo.
Na visão do ex-presidente, o mercado e adjacências já estão cansados de saber que um novo governo do PT não botará fogo no circo da economia – até porque sua atuação anterior não autoriza que os governos petistas sejam tachados como radiciais. “Qual a garantia que o mercado pode ter? A garantia é o que já fizemos, e nossos governos foram ótimos para eles”, diz um interlocutor de Lula, reproduzindo o que ele tem dito.
Essa posição não interdita conversas de Haddad com setores que podem antecipar apoio a ele, e nem mesmo com a ala do PSDB em que, reconhecidamente, tem amigos e que tende a votar nele se o candidato Geraldo Alckmin continuar imobilizado nas pesquisas. As conversas por amigos comuns já estão ocorrendo. Mas tudo com muito cuidado, para que não se dê a impressão de que qualquer compromisso de abrir mão de pontos do programa já anunciado esteja sendo assumido neste momento.
O interlocutor de Lula conta que a cúpula do PT está calejada, cansada de conversas que acabam resultando em mal-entendido. Cita, por exemplo, o ex-presidente Fernando Henrique, que faz grandes elogios a Haddad e acaba por divulgar uma carta em que considera sua candidatura extremista. Nem mesmo os petistas mais moderados engoliram o último movimento de FHC.