Tem pouquíssimas chances de vingar a ideia de jerico apresentada hoje pelo senador Lindbergh Farias de antecipar a votação final do impeachment para que ela ocorra ainda durante os jogos olímpicos do Rio, que acabam em 21 de agosto. A intenção é chamar a atenção da mídia internacional, que vai estar toda no Brasil cobrindo a olimpíada, e a proposta é até exequível, já que basta que a defesa de Dilma Rousseff não use todo o prazo para apresentar suas últimas razões.
Exequível mas absurda, antes de tudo porque, se prosperar, mostrará que o PT e as forças que teoricamente apoiam Dilma estão jogando a toalha de vez. Mostra, sobretudo, que a intenção da tropa de choque da presidente afastada não seria mais tentar virar votos – estratégia cuja chance de prosperar é diretamente proporcional ao tempo que o processo levar e os eventuais desgastes do governo interino. Michel Temer sabe disso, e era ele que, até poucos dias atrás, tinha pressa. Lembram?
Fica parecendo que o que o PT quer é tão-só chamar atenção da mídia internacional e, com isso, impor mais um constrangimento a Michel – o que fará parte da luta política rotineira do PT na oposição. Isso, aliás, é o máximo que pode acontecer. A imprensa internacional não tem votos no Senado e nem força para reverter um impeachment depois de aprovado.
O pior de tudo é que o constrangimento não será de Temer, mas do Brasil todo perante a comunidade internacional. A bizarra e raríssima situação de se ter um país sediando jogos olímpicos e destituindo seu presidente ao mesmo tempo -talvez seja a primeira vez desde a inauguração do torneio na Grécia dos tempos antigos – será, isso sim, um vexame internacional. Com nossa imagem já abalada, vamos passar ao mundo a certeza de nossa incompetência para organizar qualquer coisa.
Do mesmo jeito que foram criticadas as articulações dos aliados de Michel Temer para antecipar o afastamento definitivo de Dilma para antes dos Jogos do Rio, pelo risco de ferir a institucionalidade de um processo que tem que estar acima de questionamentos de casuísmo, não se pode aceitar agora que o PT venha a usar políticamente o rito do impeachment.
Seria um final por demais melancólico, que aqueles que permanecem leais à Dilma – e não interessados apenas em jogar para a plateia – não deveriam permitir.