Até poucos dias atrás, boa parte do establishment político desdenhava da candidatura Jair Bolsonaro, comportando-se como se, mais adiante, ela fosse derreter sozinha. Preocupados com os próprios problemas – que são muitos, em todos os partidos – não levaram a sério o candidato da extrema direita, que foi crescendo e aparecendo. Agora, somente agora, bateu aquele medão generalizado.
Esta semana, alguém lembrou que o absurdo Bolsonaro – aquele que todo mundo espera ver se estrepar na próxima curva para ser substituído por um anti-Lula da confiança do PIB – até que anda fazendo as coisas certinhas. Viagens, palestras, encontro com setores da sociedade no espectro da centro-direita, ele ainda não cometeu aquele erro fatal. Ao contrário, fez até jogadas competentes para tentar se aproximar do mercado, como a escolha (?) do liberal Paulo Guedes para um hipotético Ministério da Fazenda.
Sob a vigilância da mídia brasileira, e até ridicularizado pela imprensa internacional como um projeto de Trump tupiniquim – o que, de fato, ele parece mesmo ser, com a chance de provocar por aqui tanto estrago quanto o americano lá – ele vai seguindo em frente, mantendo a polarização com Lula e até crescendo segundo algumas pesquisas.
A repugnância levou muita gente a ignorar Bolsonaro. Em outros casos, pode ter sido a esperteza. Para o PT de Lula, por exemplo, é o adversário ideal num segundo turno. Para os centristas também. Só que esses achavam que iriam se livrar de Lula via Justiça – o que parece a cada dia mais remoto.
O monstro está criado e o perigo agora é real. Nesse quadro, é bem provável que o deputado militar comece a apanhar um pouco mais a partir de agora.