O PSDB já comprou a bicicleta?

Ministros Antonio Imbassahy e Eliseu Padilha.

A manhã desta quarta-feira (29) terminou em Brasília com a notícia, dada pelo ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, de que o PSDB não está mais na base do governo Michel Temer. O anúncio oficial do descolamento dos tucanos do governo Temer acontece um dia depois de o governador Geraldo Alckmin ter dito ao jornalista José Luiz Datena que, sob seu comando, o partido sairia do governo.

As notícias parecem ser um ensaio de que o PSDB definiu seu rumo e interrompeu o louco processo autofágico que vinha corroendo suas entranhas. O partido está há meses no dilema sobre se casa ou compra uma bicicleta. Falou-se dele em vários momentos, como por aqui, aqui e aqui. Aparentemente, o PSDB resolveu que não vai casar com Temer. Mas ainda é preciso um tempo para saber se realmente resolveu comprar uma bicicleta.

Ao definir Geraldo Alckmin como o comandante do processo que pretende unir novamente os tucanos no ninho, dando fim às disputas internas, aparentemente o PSDB define também que lançados e murchos os balões de ensaio do tipo João Dória e Luciano Huck, começa a concentrar suas apostas em nova tentativa presidencial com o governador de São Paulo, que Luiz Inácio Lula da Silva derrotou em 2006. E que essa tentativa será desvinculada do governo Temer, mas não da necessidade das reformas estruturais que o governo vem propondo.

O problema é saber se realmente dá para encaixar todas as peças e resolver todos os dilemas internos tucanos em torno desse projeto. O rolo começa pelo que já apontou por aqui Andrei Meireles: é possível fazer essa omelete sem quebrar os ovos? Alckmin terá como reunir todos em torno de si com essa plataforma?

Diga-se que tal unidade não se verificou em nenhuma das vezes em que o PSDB disputou e perdeu para o PT desde a eleição de Lula em 2002. Naquela eleição, José Serra não entusiasmava nem Aécio Neves nem Tasso Jereissati. Na tentativa com Alckmin, o corpo mole vinha dos mesmos Serra e Aécio. Novamente de Aécio na segunda tentativa de Serra contra Dilma em 2010. E de Serra na tentativa de Aécio em 2014.

O segundo problema está em se saber como será a construção do discurso desse descolamento do governo e de seus problemas. Será como chegou a propor Tasso Jereissati quando estava na presidência interina do partido, na ideia de se fazer uma autocrítica e tentar recuperar o caminho original do PSDB? Ou num meio termo mais ao estilo Alckmin? Porque, se a razão para o descolamento está nas denúncias contra o presidente Michel Temer e outras pessoas do atual governo, é preciso lembrar que tais denúncias atingem o PSDB também. Aécio é primo-irmão da denúncia feita contra Temer. Quando Joesley Batista jogou sua bomba na Esplanada dos Ministérios, ela atingia tanto Temer quanto Aécio.

Tasso Jereissati e Geraldo Alckmin.

O PSDB vai embarcar no discurso do golpe perpetrado pelo ex-procurador-geral da República, Rodrigo Janot, como faz o PMDB? Lembrando que a maioria da população não é nem Fla nem Flu na insana disputa eleitoral, será possível convencer o eleitor que não foi golpe quando aconteceu com o adversário, no caso do impeachment de Dilma Rousseff mas é golpe quando atinge o PMDB e o PSDB? Ou, mais complicado ainda: convencer o eleitor que não foi golpe com Dilma, que o PSDB nada tem a ver com as denúncias contra Temer, mas que é golpe ou injustiça quando atinge Aécio?

Ou o PSDB vai deixar Aécio à própria sorte? Mas como? Expulsá-lo ou puni-lo de alguma forma, o partido não fará. Tentará com ele uma espécie de ostracismo: Aécio fica quieto e não atrapalha? Ele aceita isso?

E como lidará o partido com outras denúncias que igualmente o atrapalham? Caso do ex-governador Eduardo Azeredo, condenado no mensalão mineiro? Tentará passar ao largo desses temas, coisa que os adversários certamente não permitirão? Que discurso construirá nesse sentido? O proposto por Tasso?

A autofagia vivida pelo PSDB nos últimos tempos é fruto da complexidade desses seus conflitos internos. Com dificuldades para resolvê-los, o partido travou. Os últimos acontecimentos demonstram uma saída dessa paralisia. Mas os conflitos internos continuam. E eles poderão travar o PSDB novamente. É por isso que não dá ainda para saber se a bicicleta já foi comprada. Muito menos qual a sua marca e quantas marchas ela tem.

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