Entre anúncios erráticos de um retorno sempre adiado, que tentaria transformar num ato político, Jair Bolsonaro recebeu nos últimos dias, via interlocutores políticos, o seguinte recado de ministros do STF: se voltar ao Brasil, terá que arcar com as consequências policiais e judiciais. Para bom entendedor — e isso Bolsonaro é — elas vão passar, no mínimo, por depoimentos à PF, mas podem abranger operações de busca e apreensão em sua residência e até prisão. Com base nesse relato, alguns aliados do ex-presidente arriscam dizer que ele não voltará ao Brasil tão cedo, se é que voltará, e respiram aliviados. Para muitos deles, o retorno do ex-chefe, com a obrigação de voltar a lhe bater continência, seria um grande constrangimento.
O recado do STF foi enviado antes das últimas descobertas do caso Arábia Saudita, mas a situação de Bolsonaro só fez piorar de lá para cá. Alguém imagina, por exemplo, que a Polícia Federal — que já está no encalço do almirante Bento Albuquerque para depoimento — não irá tentar localizar o segundo kit de presentes da Arábia Saudita depois dos documentos mostrando que o então presidente os recebeu pessoalmente no Alvorada? Ou foram num avião da FAB para Orlando com seu feliz proprietário ou ficaram na mudança dos Bolsonaro para um condomínio em Brasília — e lá estão na nova casa.
Esse caso, agora o mais escandaloso, é apenas um dos episódios que envolvem Bolsonaro em irregularidades e desgastam ainda mais a sua imagem — e que se juntam aos inquéritos que apuram sua participação dos atos golpistas e o abuso de poder na eleição, que caminha para torná-lo inelegível.
A nova suspeita, porém, joga o ex-presidente num terreno mais pantanoso ainda do que aquele que pode torná-lo inelegível. Ainda levantamentos de rede de institutos como o Quaest mostrem que a história rocambolesca não serviu para abalar sua imagem em seus redutos digitais, nos meios políticos e fora da bolha bolsonarista o estrago é grande. Isso pode ser avaliado pela reação dos aliados bolsonaristas. Até agora, pouquíssimas vozes de levantaram em defesa do ex-presidente.
Não há argumentos para defender quem recebeu presentes indevidos e tentou recuperar, mediante expedientes duvidosos e não-republicanos, joias que representam uma verdadeira fortuna. Presente ou propina, é a questão que norteia a investigação. E será difícil ver aliados do quilate dos governadores de SP, Tarcísio de Freitas, e de Minas Gerais, Romeu Zema, recebendo e fazendo rapapés para Bolsonaro em sua volta ao Brasil. Até mesmo Valdemar Costa Neto e seu PL andam quietos — todos torcendo para que sua estrela maior não dê as caras tão cedo por aqui.