É um exercício inútil ficar comparando manifestações, medindo qual foi maior, teve mais gente ou capilaridade Brasil afora. A olho nu, sem qualquer “manifestômetro”, percebe-se que os estudantes conseguiram, mais uma vez, se mobilizar e fazer um protesto impactante em mais de cem cidades do país. Não é pouco, assim como também não foi insignificante a manifestação de domingo em apoio a Jair Bolsonaro – que serviu para mostrar que ainda tem gente com ele.
Com sinais trocados, as manifestações realizadas em sequência – incluindo a maior de todas, de 15 de maio – não se anulam. Diferentemente do que pensam alguns, inclusive no Palácio do Planalto, a lógica, nesse caso, não é a do olho por olho, dente por dente. Chega a ser infantil a reação de movimentos de direita governistas que, depois do primeiro protesto, trataram de providenciar o seu, como se valesse uma espécie de ditado segundo o qual quem com manifestação fere, com manifestação será ferido.
Na realidade, o que três fortes movimentos de rua em apenas duas semanas, num governo com menos de cinco meses, mostram é que alguma coisa está mudando. Vai ficando claro o clima de insatisfação com o governo, confirma-se o quadro de radicalização política que vivemos há tempos e a sociedade se mobiliza.
Onde esses protestos vão desembocar, ou se vão continuar, e como, ninguém sabe. Do ponto de vista de um governo que perde aceleradamente a popularidade, tende a piorar se não forem atacadas as causas de insatisfação. Elas vão muito além dos cortes e problemas de gestão na educação, que o ministro Abraham Weintraub parece querer resolver com performances a la Mary Poppins nos vídeos em que aparece dançando com guarda-chuvas.
Coincidência ou não, as ruas se encheram nesta quinta quase ao mesmo tempo em que o IBGE divulgava o encolhimento de 0,2% da economia brasileira no primeiro trimestre do governo Bolsonaro. Não é razoável imaginar que irão se esvaziar de uma hora para outra.