Enquanto o Brasil, em estado de choque, acompanha o resgate de corpos em Brumadinho e as providências para apurar as causas da tragédia, que toma todos os espaços da mídia, os políticos ficam mais à vontade para fazer os acertos de última hora para as eleições no Congresso, nesta sexta-feira. Consolida-se na Câmara o favoritismo de Rodrigo Maia. No Senado, Renan Calheiros fecha um acordo com a ala de Michel Temer no MDB para assegurar que sairá candidato da reunião da bancada, que começa hoje mas deve se arrastar até a véspera da eleição.
A agenda oculta por trás das principais negociações é a reação do establishment político ao que consideram excessos do Ministério Público, da Polícia Federal e da Justiça no processo deflagrado pela Lava Jato. No Senado, o sujeito que, claramente, oferece proteção hoje – inclusive a Flávio Bolsonaro e a Michel Temer – é Renan Calheiros.
Na Câmara, havia certas dúvidas em relação a Maia, que hesitou na defesa de colegas em sua gestão e engavetou propostas como a da anistia ao caixa 2 e a da punições pelo abuso de autoridade. Mas agora os tempos são outros, e nas negociações das últimas horas o deputado vem convencendo os colegas do MDB e do PP que não os deixará na mão.
Nessa linha, uma de suas maiores ameaças, a candidatura do deputado Arthur Lira, do PP, está sendo retirada, embora seu colega Ricardo Barros, ex-ministro da Saúde de Temer, tenha mantido a sua, com um discurso contra os abusos do Ministério Público. Não é por acaso que o PP está marcando posição na disputa pelo comando do Congresso: o partido sabe que será alvo de mais uma ofensiva do Ministério Público e das autoridades de investigação contra a corrupção. Em questão de poucos dias, pode estourar.