Brasília amanheceu na paz dos cemitérios este sábado. Ninguém se arrisca a abrir a boca. Apesar de já ser esperada “a delação do fim do mundo”, o primeiro vazamento explosivo da delação da Odebrecht citando o presidente Michel Temer e praticamente todos os caciques importantes do PMDB pegou essa turma de surpresa num final de sexta-feira. Boa parte do que está hoje na detalhada matéria da Veja sobre o depoimento de Claudio Melo Filho, nos noticiários da TV Globo e nos impressos era mais ou menos esperada. Mas é que nem filme do Spielberg: você fica sabendo antes de todos os efeitos especiais, mas na hora em que vê sai impactado.
O que a nova rodada de vazamentos da Lava Jato trouxe foi uma espécie de concretude a delações que já vagavam por aí em matérias na imprensa e fofocas nos blogs. Agora, viraram depoimentos formais, por escrito, assinados e acompanhados de detalhes, e-mails e outras provas e indícios. Isso muda muita coisa. Vai ficando claro, por exemplo, que na maioria dos casos não se trata apenas de caixa 2 ou doação eleitoral desinteressada, e que a empreiteira tinha um vasto esquema de defesa de seus interesses no governo e no Congresso, promovido por políticos regiamente pagos para defendê-los.
Os poucos que se animaram a acordar para a realidade neste sábado – e que não estão citados nas delações – não se animam a fazer previsões. Contam com o fator tempo, já que os depoimentos vão levar ainda meses para serem homologados. Preocupam-se com o fator mídia, pois sabem que nenhum governo resiste a doses diárias e cavalares de denúncias cabeludas no noticiário. Temem pelo destino das reformas no Congresso e acham que, para que não naufraguem, poderão manter o apoio do PIB.
A soma de todos esses fatores resulta numa débil esperança de manter o governo Michel Temer. Até porque o presidente da República não pode ser processado por atos cometidos fora de seu mandato. Todos os que o cercam, porém, podem. E daí surge a primeira certeza: num efeito digno de Spielberg, o governo Temer que sobrar, se sobrar, não será esse que aí está. De quem será?