Tirando o exagero de dizer que os índices de criminalidade já caíram “enormemente” em dois dias de atuação das Forças Armadas na segurança do Rio, Michel Temer conseguiu finalmente, às vésperas da votação de seu afastamento pela Câmara, criar um fato positivo, devidamente faturado na viagem-relâmpago ao estado neste domingo. Muda alguma coisa na contagem dos votos? Diretamente não, mas é uma tentativa de amenizar o clima, além de tentar reduzir as traições na bancada do Rio.
Todo mundo sabe que botar o exército nas ruas é um paliativo, e que a violência urbana crescente e alarmante só será contida de verdade com medidas estruturais. Muitos temem a militarização dessa questão e até possíveis incidentes entres os militares e a população. Mas o povo vivia numa tal insegurança que gostou: aplaudiu, buzinou, deu entrevista.
Michel, numa rara ocasião, conseguiu sair de Brasília para uma viagem em que não foi vaiado. Apareceu nas imagens e fez um pronunciamento, cercado de ministros – até Henrique Meirelles foi. Aproveitou a viagem para conversar com deputados da bancada do Rio, que está dividida em relação à votação da denúncia, sobretudo depois que o relatório do deputado Sérgio Zveiter foi derrotado pelos governistas na CCJ.
O principal efeito político de curto prazo da ação no Rio, porém, não será medido em votos. Ao botar a tropa na rua, Temer criou uma pauta importante para a mídia, que está com os canhões apontados contra ele mas passa a ter outro tema para abrir os telejornais, de igual ou até maior importância aos olhos da população. E, quem sabe, ajuda a criar um clima de ruim com ele, pior sem ele…